.

.
.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Remi, Che Guevara e a Guerrilha do Araguaia

por Décio Sá

Ao comentar aqui na segunda-feira a ascensão do ex-deputado Remi Ribeiro (PMDB) ao Senado da República, informei que ele participou da Guerrilha do Araguaia dando apoio aos militantes do PCdoB (reveja). Foi o bastante para o candidato derrotado à Assembleia Legislativa e membro do Sindicato dos Professores, mesmo sem ser professor, Júlio Guterres retrucar nos comentários:

“Meu caro Décio, confesso a você que é a primeira vez que ouvir falar que Remi Ribeiro ajudou militantes do PCdoB na Guerrilha do Araguaia. Estou no PCdoB há 40 anos, desde os 14 anos de idade quando comecei a fazer as primeiras tarefas partidárias. Com isso não estou contestando, apenas acho que merece um resgate histórico”, disse o comunista, evidentemente duvidando da informação.

Remi pode ter se encontrado com Che Guevara

Hoje conversei com o senador e presidente em exercício do PMDB do Maranhão. Ele não gosta de falar muito sobre o assunto. Por causa da provocação de Júlio Guterres, resolveu contar histórias da época. Remi, que foi vereador em Imperatriz de 1970 a 1976, afirmou ter sido preso em 1971 com o também vereador Carlos Lima. Ele era um grande líder estudantil na cidade. A popularidade o fez deputado na década de 1980.

A prisão deles foi feita pelo general Antonio Bandeira de Melo, um dos comandantes militares contra a guerrilha. Remi e Carlos Lima eram responsáveis por receber os “subversivos” vindos de outros Estados a Imperatriz, portal de entrada região do Bico do Papagaio. Era o final da década de 1960. ”Nós íamos pegá-los no aeroporto e abrigá-los nas casas dos militantes”, explicou o senador.

Ele contou que Carlos Lima recebia as armas e as escondia em buracos ao longo do Riacho Cacau, um dos afluentes do Tocantins. Os buracos eram forrados com zinco. Ficaram presos algemados ao relento, durante dois dias, no prédio da Rodobrás, onde hoje funciona a sede Polícia Rodoviária Federal. “Vamos matar esses vagabundos”, diziam os militares.

Nesses dias os policiais o levaram ao aeroporto da cidade no sentido de reconhecer o prefeito de Imperatriz, João Meneses, que desembarcaria. Remi ficou algemado ao pneu de um dos aviões parados no local. “Vamos decolar e soltar esse aí lá de cima”, aterrorizavam os militares.

O senador relatou um fato engraçado. Allan Kardek, pai do hoje diretor da ANP de mesmo nome, também foi preso. “Ele era botafoguense roxo e deu detalhes na prisão sobre a vitória de 1 a 0 que o Botafogo havia obtido. Como o coronel torcia para o Botafogo mandou soltá-lo na hora. Ele quase se perde ao voltar para casa”, disse.

O senador contou que na ocasião ele e Carlos Lima foram ao encontro de um militante estrangeiro que acabava de chegar à cidade. Depois souberam que poderia ser Che Guevara. Remi disse que a maior prova de sua participação na Guerrilha do Araguaia foi uma reportagem de O Globo, publicada na década de 1990. O próprio Bandeira de Melo abriu seus arquivos e divulgou bilhetes do hoje senador aos militantes do PCdoB.

A bíblia dos comunistas era um manual da guerrilha enviado pelos militantes de Cuba. Uma das técnicas de comunicação dos presos era mandar mensagens escritas com água de limão entre as linhas de uma carta comum. “Quem recebia a carta pegava cinzas de outro papel queimado e as colocava sobre a carta que o recado aparecia. Até hoje qualquer um pode fazer isso”, relatou o senador.

Ele chegou a ir numa missão à Serra do Caparaó, em Minas Gerais. Ao chegar próximo ao destino, teve de voltar por receber a notícia da prisão de vários militantes comunistas. Passou um tempo escondido em Brasília e na Rua Natal, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Remi afirmou que já eleito deputado foi a um encontro parlamentar em Maceió (AL). Dentro do elevador deu de cara com Bandeira de Melo. “Coronel, esse mundo é muito pequeno. O senhor nos torturou e hoje está aqui. Ele ficou branquinho”, comentou o presidente do PMDB.

Como se viu acima, o “professor” Júlio Gueterres está precisando estudar mais a história do Maranhão e a do próprio partido do qual é dirigente.

Obs: O senador Remi Ribeiro é pai de Remi Júnior, secretário de Meio ambiente de Tuntum, casado com a senhora Surama Cruz, filha do vereador Orleans Moreira Cruz e Oldy Vieira Cruz

Nenhum comentário:

Postar um comentário