sábado, 26 de fevereiro de 2011

0 TUNTUM DE DONA RITA COELHO

Dona Rita Coelho foi uma senhora muito dama, com cara, jeito, beleza e atitude de dama. Seu valor,sua serventia no meio daquele povo de Tuntum e redondeza. Se era para servir um necessitado, um doente, uma gestante na hora de dar a luz, ela ia lá, que fosse longe, que fosse noite de chuva, ela atrevessava lameiro, atoleiro e o que fosse, nem queria saber se ia receber paga por aquilo, pois o dinheiro por lá era tão curto, tão escasso, principalmente para o povo do Centro. Ela era mãe. Foi mãe por mais de dez vezes, sabia da precisão de alguém capaz, na hora de se ter criança. Ela ia lá contrariando seu Alípio, ninguém que tem um anjo daquele a seu lado no meio da noite, duma horinha pra outra chega um Zé Ninguém, sem nenhum centavo no bolso e a tira dos seus braços em troca de nada. Mas ela ia. Ia e foi tantas vezes.

O Tuntum naquele tempo era uma vila de no máximo 10 casas, quase todas cobertas de palha de babaçu, mas tinha um povo bom, povo trabalhador. Seu Alípio Coelho era afamado pela sua lida, ninguém o pegava na cama, o trote dele começava era cedo. No clarear do dia ele agia, ia pra roça, pros cercados, era uma coisa, era outra, era na lida com os animais. Ele nao parava. Todo mundo notava.

0 Frederico Coelho seu irmão era do mesmo jeito ativo na labuta diária, e por não parar um instante, ambos prosperaram. Havia ali no Tuntum muitos homens iguais a eles. Seu Zé Uruçu era também muito trabalhador e seus filhos o se guiam. Metade deles adultos, a outra metade por criar. As famílias daquele tempo, no geral, eram grandes. Seu Alipio ti¬nha pra mais de dez filhos, o seu Zé Uruçu também, e assim era a maioria.

Seu Alípio durante um bom tempo foi considerado um ótimo caçador. Isso no começo, quando tinha muita caça por ali: anta, veado mateiro. Ele era jeitoso, portanto seus varais estavam sempre repletos de carne de bicho, nos meses de caça.
0 Tuntum tinha aquele eterno problema da maioria das moradas do Estado do Maranhão. Falta d!agua. Se bebia do

riacho. Não era bem do Riacho, esse servia mais era de lixeira, até cachorro morto se jogava nele, lá dentro. Se bebia das nascentes, coisa mínima aquelas aguinhas que brotavam na ribanceira, que nem o Pinga. 0 Pinga era a pocinha principal de abastecer d'água a maioria das famílias. O que se via era mulher, era mocinha e menimo subindo e descendo a ladeira dabaixo de cabaças e latas d’água. Dava até dó ver aquelas mocinhas, desde pequenas, carregando aquelas latas desproporcionais ao tamanho da criatura que a conduzia. A vida ali era difícil pra todos. Meu pai nem aguentou a vida do Tuntum, certa hora ele catou seus filhos, eu com menos de dois anos, e entrou mata adentro, e se enfurnou lá onde não tinha mis jeito. Conforme eu penso, ele largou mais o Tuntum foi por causa da minha mãe, ela, agoniada demais com medo do Amadeu, que na época tinha 20 anos, idade certa para ser recrutado pelo Governo, para ser mandado para a Guerra, era Campus de Ita¬lia. Era lá que a coisa pipocava e que a cobra fumava.

0 Tuntum até que era um lugar de boa paz, pouco se falava em violência, apenas um conflito mais antigo entre o povo de lá e um bando de ciganos. Isso antes. É que diziam que os ciganos fizeram covardia, roubaram ali o que podiam roubar, e por fim arrancaram (na marra) brincos de ouro de orelhas de senhoras. Ai, desse jeito, deu conflito. Nao sei contar direito o final, mas parece que houve morte por conta disso.

Tinha um valentão por lá, era o……………………………………………

Ele deu uma pisa no Faustino Nogueira certa época, é que o Faustino, cá pra nós, ele era mesmo atentado e de língua solta, deve ter falado o que não devia, coisa que o valentão não gostou, e por isso tome peia no lombo. Na hora da sur¬ra, o homem em cima do Faustino a bater, então, na agonia ele gritava a todo pulmão:

- Tirem esse infeliz do “pé-podre" de cima de mim, gente, - Tirem esse infeliz do “pé-podre” de riba de mim. E a taca comendo. É que o valentão tinha uma "ferida braba" no pé, por isso, o atrevido do Faustino o chamava de "infeliz do pé-podre".
Esse dito valentão, em outra ocasião, ele bebendo, como era do seu costume, sem nenhum motivo, apenas por maldade o "infeliz do pé-podre" deu uma chicotada no lombo do Frei Damião. Dizia ele apenas que padre era homem de saia, e que macho andando de saia no meio do povo merecia mais era apanhar. Veja que mentalidade. 0 Frei Damião de Levade pertencia ao Convento de Barra do Corda, e vez em quando vinha a Tuntum em "Desobriga”, batizar menino, pois Tuntun era municipio da Barra.

Os meninos mais velhos de dona Rita foram mandados para São Luís, para estudar por volta do ano de 1.950. Meus irmãos na mesma época também seguiram o rumo da Capital em busca do saber, portanto por lá eles experimentaram juntos do passar mal, do passar fome daquelas pensões baratas da Rua dos Afogados, o sofrer junto une as pessoas, por isso viramos família, nós e os filhos de dona Rita.

0 quintal de dona Rita era cheio de laranjeiras, e ela reservava alguns pés daquelas mais doces, ninguém podia bulir, só os meninos quando voltassem de féras. Não é que ela reservava um pé também para nós, filhos do Xito Ribeiro?

Dona Rita! Dona Rita! Que pessoa importante, bonita no seu semblante de santa, rosto sempre alegre, sempre estudando a gente, aquele anjo protetor que nos enchia de comida das mais gostosas. Às vezes eu e os meni¬nos dela em tempos de férias ficávamos até muito tarde da noite conversando potoca, aquelas besteiradas de rapaz, a gente bem sabia que estávamos perturbando o seu sono, pois se o quarto dela era vizinho. E1a, ao invés de ralhar conosco, parecia achar mesmo era bom a nossa bagunça, era a saudade de nossa voz, do pique da nossa juventude dentro de casa a encher o ambiente de vida. Ela tinha sabedoria para aproveitar esses momentos.

A Raimundinha do João Pinheiro que era irmã de dona Rita, quase tão bonita quanto ela. Acho que essas irmãs vieram das bandas das Areias, pros lados do Genipapo do Resplandre, talvez. Disso não tenho certeza.

Raimundinha criou seus filhos à custa de fazer bolos, era uma especialista em broas e petas e tudo enfim nessa arte de fazer gostosuras. São abençoadas as mãos de uma pessoa que com elas faz delícias, que nem a Raimundinha. Coitada dela, levou na vida muito calor de boca de forno. Vida é vida. Seu marido, o João Pinheiro, uma pessoa tão digna, sempre lá pro Centro, limpando sua roça, assim criaram seus filhos, todos educadinhos, com jeito de gente. 0 Acácio até se formou, nao sei se em Engenharia. Essa família é toda muito inteligente.

A comadre Joana Coelho, era de outro ramo dos Coelhos, uns mais morenos, que nem a própria comadre Joana. Minha mãe tinha muito cuidado com ela, outras senhoras dali também se preocupavam COM a situação da comadre Joana. Ela já tão idosa, dentes não tinha mais na boca, trabalhar não dava conta e ainda por cima tinha a Luzia de contra-peso. A Luzia, coitada, nasceu meio assim, não dava conta de nada. Pobreza morava ali. Mãe não abandonava ela, era urn pedacinho de carne, era um litro de leite, outras senhoras ajudavam. Era muita precisão. Naquele tempo não havia aposentadoria dos idosos, era preciso que a comunidade tivesse compaixão. Muitos anos depois, comadre Joana já nem existia mais, o Presidente Garrastazu Medici deu aposentadoria aos velhos. Meu juízo foi diretinho nela. Ah se a comadre Joana ainda fosse viva? Ela que tanto carecia de um adjuntório do Governo.

Dona Filomena, mãe de muitos filhos, avó de tantos netos, sem contar as noras e genros, a maioria morando ali junto. Ela nem carecia mais fazer dicomer em casa, aqui acolá apenas um chazinho, um café, uma sopinha de engana istombo. Ê que um filho lhe mandava um pratim disso, um outro mandava um pedaço de bolo, um cuscus, uma rapadura, e comida de sal mesmo eles mandavam. Ela assim ia levando. Certo dia, porém, dona Filomena mal acabou de tomar um café bem quente na casa de uma nora, saiu no terreiro, nessa horinha caiu uma chuva dessas ligeiras que não dá tempo a nada, ela se molhou, e não podia. Lá no Maranhao quem toma café quen¬te não pode se molhar daquele jeito, pois pega "ramo" ou estopora, ou constipa, ela pegou. Pegou "ramo" e começou logo a passar mal, e foi piorando, e piorando. Mandaram chamar um bocado dos seus filhos na roça, e outros mais nao sei adonde,

0 Mané Filomena lá do Napuru era um deles. 0 povo veio. Todo mundo ali em volta agoniado. E a veia de mal a pior. Um dava uma meisinha, outro dava urn cachet de pila contra-estopô, e nada da dona Filomena reagir. Aí ela começou de dá passamento, de dá desmaio. Gente rezando. Era um valha-me Deus. Uma neta churumingou de lá: - mãe, vozinha vai morre? Tava assim.

Num instantim de hora, num repente, nínguém entendeu direito o rampante da veia que se aprumou nos cascos, tomou tento. Tomou coragem e bradou: - ara! Vou morrer nada! Levantou a cabeça e foi rosnando:

- Tô doente, não! - Vou morrer, não! Todos vocês

podem ir pra casa cuidar das obrigações. Que besteira! Vou

morrer porquê? Por causa de uma chuvinha? Ê que muita gente

por lá morria apenas por impressionação. Metia na cabeça aquelas ideias de antigamente, se auto-sugestionava e podia

até morrer, como estava acontecendo com dona Filomena.

Depois disso ela ainda viveu foi tantos anos,

Voltando àquele acontecido dos ciganos. Galinha passou em frente ao acampamento deles, Cigana véia via a galinha, chamou Pedro, que era urn diabim esperto. Pedro correu atrás. Pegou a galinha, veio correndo e a entregou à cigana veia que a estroncou e a enfiou entre as pernas, por debaixo da saia. A dona da galinha escutou o barulho, desconfiada, foi direto na cigana; - cigana, seu cão, cadê a galinha que teu moleque acabou de me roubar? - Sei, não. - Sei de galinha nenhuma não. Chamou o Pedro; - Pedro Nega, ô Pedro, nega..,, você roubou a galinha dessa mulé? - Você roubou?

- Roubei não mãe. Essa muié tá é doida.

Se era Pedro nega, ele negou, e a frangota foi pro tacho. Cigano é mesmo assim.

Outra hora cigana veia tava discutindo com un filho, bichão já virando rapaz. Brigando que tava com o traste ao qual ela deu cria, aí ela falou com raiva:

- Infeliz da hora, infeliz, - Infeliz da hora que eu te carreguei no bucho nove mês.

Ciganim respondeu irado:

- Tá arrependida, égua veia? - Tá rrependida

- Se tu tá arrependida, então entra em meu c..., que eu te carrego é nove ano.

Cigano é bicho escomungado do cão. Só Deus mesmo para entender aquele tipo de gente, pois se foi Ele quem fez tudo que hai no mundo, até as cobras.

Frederico Coelho trabalhou que conseguiu uma usina. Era a primeira usina de Tuntum, mexia mais era descaroçando algodão. Frederico tinha paralelamente também o seu comércio. Vendia tecido, ferramenta e tudo quanto hai. Ê que comercio do interior É assim. Tem agulha, tem linha, tem espingarda, tem cachet pra curar dor, tem purgante de jalapa, tem de um tudo.

Os meninos de seu Frederico escapuliram pro mundo foi muito cedo, uns pra Sao Luís. 0 Natal foi esbarrar em Minas.

Num dia de noite, bem de noitão, tropeiros chegaram na Ingarana. Ciço Gomes tava no meio. Era muita tropa de burro, ninguém nunca tinha visto aquilo na Ingarana, tropa e mais tropa chagando no meio da noite? Trouxeram muita mercadoria, tanto fardo e tanto caixote que encheu o quarto das meninas lá de casa de tanto trem.

Amanheceu o dia, eu me assustei. Eu era menino de 8 anos. Que será isso? Logo me diziam: fique quieto. Isso não é assunto para menino.

Do que eu me admirava era do meu pai, tão honrado que sempre foi, condenava rasgado toda e qualquer atitude suja, fosse de quem fosse, e de repente aquele mistério ali dentro de casa. Menino escuta tudo e logo atina. Atinei. Descobri que seu Frederico Coelho faliu. Faliu e os credores correram encima do que restou. Ele então mandou tropa e mais tropa esparramando trem pra toda banda, pra casa dos seus amigos. Pai era ranzinza, foi franco em dizer: - tô vexado com isso, mas não vou decepcionar seu Frederico. Só pra se salvar um amigo se pode aceitar um trem desses.

Seu João Paulo era boiadeiro. Vida sofrida. Ia longe buscar boiada, que mais era de tourinho aspirante a reprodutor, foi desse jeito que o rebanho do Estado do Maranhao melhorou, pois bem antes era so “gado pé-duro”, gadinho ordinario. Tinham outros boiadeiros, que nem Antonio Cutelo, esse era vaidoso. Só andava carregando mulher bonita. Subia com uma bonita, descia com outra mais bonita ainda. Suas montarias, seus arreios, süa pelegama, tudo coisa especi¬al. Dava gosto de ver. Até dá inveja o proceder de uma pessoa asim vaidosa, mas que nem todo mundo tem a coragem de Antonio Cutelo. E as armas que os boiadeiros conduziam? Coisa mais linda. Um deles tinha um "parabelum 45”.
Ele alisava o cabo de sua arma e dizia pra meu pai: - a bala dessa bicha rompe três machados emparelhados. Disse, mas nao demonstrou. Um outro boiadeiro trazia um mosquetão, arma pesada, coisa estúpida, usada para matar gente em guerra. Desse mosquetão eu escutei o tiro. 0 homem se escorou num esteio lá mesmo dentro de casa, encarcou o bicho bem encarcado no ombro, por causa do coice, cochilou na pontaria e apertou o dedo. Foi um estrondo que a cachorrada toda endoidou em volta, sem sa¬ber o que diabo era aquilo. Teve cachorrim que foi esbarrar debaixo do fogão. A bala pegou de raspão no meio da aste do cogueiro, arrancou uma solapa dele assim do lado. Coisa estúpida é o disparo de um mosquetao. Fiquei zonzo.

Meu pai aproveitava a passagem desses boiadeiros na Ingarana, para comprar deles aquelas reses mais decadentes,
- * r
reses estropiadas que já iam arrastando os pés, os cascos. Parte delas escapava, outra parte, não. Mesmo assim resolvia o problema tanto de quem comprava como de quem vendia, pois se

elas continuassem no meio do gado, logo arriavam e urubu comia.

Seu João Paulo as vezes gastava mês, 2 meses ou até mais numa viagem tangendo boiada. Ele sabia tão bem contar aqueles cousos pitorescos de mei-de-camim, dos pernoites, das travessias de rio grande, boiada batendo o peito n'água, emoção danada naquele momento, ele jogando dentro d'água tudo que ele possuia. É que a prática adquirida através dos anos nos dá uma certa garantia do que se está fazendo. Seu João Paulo citava nome de vários rios grandes e muito longe: Rio Manso, Rio Manuel Alves, era o Manelave Grande e o Manelave Pequeno. Era assim que ele falava. Acho que ele atravessou até o Tocantins tocando boiada. Disso porém não tenho certeza. Na travessia do Tocantins naquele tempo era preciso usar o “boi de piranha”. Enquanto as piranhas se entretiam mais pra baixo comendo um boiéco bichado qualquer, o grosso da boiada atravessava mais por riba, a salvo delas.

Certa vez meu pai comprou um bezerrão esquisito, da cara sirigada, esbranquiçada, como coisa que salpicaram talco na cara dele. Era Gir, a gente não sabia, sabia apenas que era zebu. Meu pai deu a ele o nome de “Empoado" justamente por conta de sua cara salpicada de pô. 0 "empoado” cresceu dum tanto, virou um mundo veio de garrote. De tão grande que ele era não deixou crias, pelo menos nâo me lembro de nenhuma, é que nossas vaquinhas eram minúsculas, não podiam com ele.

Enquanto o seu João Paulo andava pelas distâncias, dona Humbilina aguentava o batente durante os meses de ausência do marido. Dinheiro pouco, famião grande para atender de um tudo. Eta dona Humbelina, mulher que nao bambeava. Nem bambeava, nem perdia sua energia. Ela era boa, sim, cumprideira de suas obrigações, mas tinha mão de ferro, mesmo era preciso, pra não perder a rédea na frente duma família daquele tamanho era preciso pulso. Isso ela tinha.

Gentilzim. Pouco me lembro do Gentilzinho, só me lembro que ele era pequenico, uma bostica de gente, igualzim ao compadre Luiz do Zé Uruçu, aquelas carinhas de bicho do mato, mas eram duas grandes almas. 0 Amadeu adorava a ambos. 0 Gentilzinho era metido a dentista, já o compadre Luizim, no fim, foi ser vendedor de passagem do õnibus que fazia aquela linha, ele, compadre Luiz ainda apareceu lá pela Ingarana uma vez ou duas, pra ver o Amadeu.

Seu Zé Uruçu tinha filho pra danar, metade macho, metade mulher. Seu Zé no começo foi tropeiro, depois variou. Os filhos mais velhos já criados, que nem o Gerardo Uruçu, homem esperto, logo se arrumou na vida, tinha o seu negocio até bem forte, aí ele fez uma casa enorme, muitos cômodos. Gerardo gostava dum gole, e de tanto gostar de cachaça, dizendo o povo, que ele suspendeu uma dorna lá por riba da casa e de lá encanou pinga para alguns cômodos. Então, se chegava um companheiro ou um freguês que também gosta, conforme o cômodo que eles estivessem, era so abrir a torneirinha e encher o copo. Disso não tenho certeza.

Não vi. Mas se o povo fala?

O Anfiloquio era outro filho do seu Zé 0ruçu. Era também esperto igual ao Gerardo, logo logo também fez seu pé-de-meia. Anfiloquio também era doido por cachaça. Que desgraça! Pessoas tão bacanas que nem eles. Pois não é que a infeliz da bebida deu conta de consumir os dois? Coitada de dona Belinha. 0 Gerardo, esse eu apenas conhecia, mas o Anfiloquio, esse não, esse era meu amigo do peito.

A casa de seu Zé Uruçu esteve sempre de portas abertas para todos nós, filhos do Xito Ribeiro. Dona Belinha era boazinha demais, recebia a gente sem cisma, acomodava a gente, agradava. Ah como que aquela dona Belinha adorava seu marido, era um caqueado, aquele falar carinhoso e submisso. Era bonito aquilo. Seu Zé era homem de pouca cultura, mas era jeitoso pras coisas e possuia grande sabedoria de vida. Esses atributos somados à sua honestidade fizeram dele um dos primeiros prefeitos, quando Tuntum virou cidade. Ele bem merecia, era homem direito.

Tinha o Chico Uruçu, tinha o Osmar, tinha o Luizim, e filha mulher também tinham muitas: a Creuza era esperta que nem os outros, se casou primeiro com um tal que eu não me lembro o nome se era Aprígio? Com ele teve um filho, o Airton, também esperto, é que filho de cearense é que nem filho de nambu, já nasce correndo. Airton pererecou por Tuntum durante um tempo caçando jeito de empinar sua curica, não deu conta. Nesse entremeio fez foi se envolver num acidente de carro, com vítimas fatais, andaram querendo pôr culpa nele, ele contrariou com aquilo, foi-se embora pro Pará. Por lá ele conseguiu o que queria, fez seu prato. Hoje é bem estabelecido numa cidade do outro lado do Tocantins, a 100 quilômetros da Imperatriz.

As meninas de seu Zé Uruçu eram tantas, além da Creuza tinha também a Nitinha, a Gracinha, a Hiolanda, essa se casou com um filho do Faustino Amancio. Esse rapaz, pelo que eu ouvi dizer, certa ocasião ele foi fazer uma aventura pras bandas do Rio de Janeiro. Parece que por lá ele foi preso, e que o negócio envolvia uns escondidos que ninguém sabia direito o que era.

Ê assim mesmo, a gente cai, depois se levanta de novo. No tropeção a gente costuma aprender uma liçãozinha qualquer, que é pra não cair travez.

Meu Tuntum. Ah meu Tuntum dos favores, da generosidade, da fraternidade humana, que nem as atitudes de minha mãe e de dona Rita. Sou feito daquela massa, daquela matéria: da abóbora, da banana, do milho verde, do arroz com feijão, enfim, foi com essa gororoba que eu ganhei sustância para sair pro mundo, que nem fazem todos os nordestinos. Sai, mas o Tuntum mora dentro de mim. Só que o Tuntum que mora dentro de mim é aquele Tuntum antigo, de 1.95O, cuja cultura dali era a amizade em primeiro lugar, não querer mal a ninguém, e socorrer a quem precisa, se for possivel.

Tinha do outro lado, no Tuntum de Cima um homem muito importante, era o seu Ariston Leda. Seu Ariston era honrado, competente pra tratar com todos, sabia sobre coisas da cidade grande, sabia falar com cada um e sabia ouvir. Ele, seu Zé Uruçu e o Isaque Martins foram os três primeiros prefeitos dali, quando Tuntum virou cidade. Bem merecido, pois se o suor deles estava misturado no meio de tudo ali.

Seu Ariston tinha umas filhas que eram as coisas mais lindas, parece que uma delas virou "Miss Estado do Maranhao". Todos admiraram quando eu falei certa vez:-essa menina ainda vai ser misse, ela era ainda adolescente quando falei isso, pois não é que aconteceu? Tinha também a Graça que era a irmã mais velha, igualmente bela, só que sua vozinha tinha urna ressonância assim, assim…

Lá no Tuntum de Cima tinha um fazedor de cela, de arreio e de cangalha. Meu pai cançou de emcomendar artefatos de couro a ela. Desse não me lembro mais nem do nome nem de suas feições.
Tinha o Adi, que era irmão de seu Ariston, o Adi na verdade se chamava Adilon, ele morava mais era lá pra fazenda dele. Esse tinha tambem filhas lindas. Tinha

a Rosa Amelia, estudamos juntos no Colegio de dona Virgínia Leda, em Dom Pedro, a Rosa Amelia era bonita, sim, mas que bonita mesmo era a outra, cujo nome terminava com Amelia também, essa de se ver era ainda mais bela mesmo que as filhas do seu Ariston, mal comparando, e que essa uma derradeira mais se parecia era com uma santa, até diziam mesmo que ela se parecia era com Santa Terezinha. Era dizer do povo de lá.

Aconteceu que essa menina, ainda criança de tudo se enamorou do Joaci de dona Rita. Joaci era seu primo e também um belo jovem e estava se preparando para ser médico, - e logo virou médico. Se formou.

Em férias do Joaci, o que se via era os dois agarradinhos, sempre e sempre juntos, pois se eles até se pareciam um com o outro, e tinham o mesmo sangue. Na verdade a cidade de Tuntum nunca tinha visto um chamego igual entre dois jovens dali. Então, porque Joaci ia se formar doutor, a cidade se preparava para dois grandes acontecidos naquela hora: um era a formatura em si. Ele seria o primeiro doutor médico, não somente do Tuntum, como também de Presidente Dutra, cidade vizinha. 0 outro acontecimento seria o casamento do seu filho ilustre com seu anjinho lindo. A cidade sonhava, naquela esperança de ter o seu doutor, aquele que conhecia nós todos de um por um, ele era simplesmente um de nós. Não aconteceu. Não houve casamento, o anjo lindo do Joaci debandou pra outro lado, se encantou por outro. Que pena! Que tamanha desilusão! Joaci não aguentou ficar no Tuntum, era preparado, ganhou mundo, foi parar no Rio de Janeiro, mas sua cabeça só Deus sabe por onde andava, de formas que pra lá demorou pouco para que chegasse a notícia; - Joaci morreu. Foi um acidente de automóvel. Nao se sabe como, pois se ele não bebia, nao tinha vícios, porque será que aconteceu então? Foi triste, muito triste essa notícia para a cidade. Dona Rita, coitada, ficou traspassada. Não é assim a vida?

0 Joaci era gêmeo com o Juarez. 0 Juarez também foi-se embora de Tuntum, não sei se para Minas ou se para o Rio de Janeiro, sei apenas que por lá ele virou sargento do Exército, ou será que ele virou foi tenente? Pois como sempre acontece com o destino de gêmeos, aconteceu também com o Joaci e o Juarez. Logo chegou a notícia que ele morreu. Morreu de doença de Chagas, mal esse adquirido lá por Minas, onde tem o tal de "barbeiro", essa praga.

A vida da gente tem hora que é ilusão, tem hora que ela é desengano. 0 Comandante é só quem sabe o que merecemos.

Dona Rita! Dona Rita! Quanta dor!? Minha santa, que destino? Quanto sofrimento naquela sua alma tão bondosa.

Perdeu seus dois gêmeos, os mais belos dali, e perdeu mais o Zeca. 0 Zeca que era outro ente maravilhoso do Tuntum. Nao me lembro direito se ele foi prefeito, ou se preparava para isso. 0 Zeca era muito especial, era mais moreno que os gêmeos, porém tão belo de feições quanto eles, é que a beleza do Zeca não era só aquela que se via na face, a beleza dele era maior, era a beleza do ser, da bondade herdada de dona Rita, da prestatividade, do chega-pra-cá. Meus irmãos o adoravam, a Raimundinha e o Deusdethque tanto conviveram juntos em São Luís. A morte do Zeca foi outro buraco profundo no emocional da vida do Tuntum. Ele tinha aquela consideração com o Amadeu, e com todos nós enfim, pois se minha mãe sempre dizia que éramos parentes, minha mãe e a Raimundinha assinam de sobrenome Coelho. E mesmo que não fosse, a vida nos juntou, nos uniu e pronto.

A morte do Zeca foi estúpida, foi assassinato. Foi um vento torto que deu na vida daquele povo, um destocer de destino, desastre de sorte, um atrás do outro, só coisa terrível.

Como se não bastasse, naquela mesma época dona Rita perdeu mais dois filhos num acidente de carro: o Justo e o Coelho Neto.

Dona Rita! Dona Rita! Que destino?

Aí, uns anos depois eu passando por Tuntum, seu Alípio, que quase nunca tinha tempo pra nós, dessa vez ele nao me largava, só ficava o tempo todo era comigo. Ele tinha se aposentado, comprado uma camioneta nova e nela era só me levando num lugar e noutro, recuperando o tempo perdido de nossa amizade. Certa hora, quando a casa deles que era sempre cheia, esvasiou, dona Rita me pegou pelo braço e me levou lá pra sala, pra diante da fileira de retratos dos seus anjos. Ali, diante das fotos, nós ficamos parados, de braços dados. Ela olhava cada uma das fotos, apontava com o dedo. Sua voz nao saía..., o que saiam eram suas lágrimas, essas desciam dos seus olhos e dos meus. Quem vai entender?

0 Tuntum so perdia a cada um deles que se ia. 0 Joaci, médico. Quanta utilidade teria ali? O Zeca, um lider que mal começava sua obra em benefício da cidade e do munici pio.

Ai a gente fica cismando, cismando, querendo saber o que que a vida significa. Só o Comandante sabe. Só Ele tem competência de saber. A gente apenas fica se interrogando: - tinha que ser assim mesmo?

A vida eu não vou entender é nunca. A Dona Rita, tão santa, era mesmo esse o prêmio a merecer por tanto bem

que praticou. Quem sou eu para contestar?

E o meu Tuntum? 0 meu Tuntun tá lá, no mesmo canto, ficou uma cidade até bonitinha, graças a essa nova geração de autoridades. Quem diria ela embelezar tanto, um lugar tão fora de esquadro. Fizeram uma maquilagem, ela ficou engraçadinha.

Essa história é do tipo da historinha que só tem serventia para nosso consumo, ela é particular, da nossa intimidade, nós do Tuntum.

Tinha o seu Manuel Borges, a casa dele era do lado de riba da Baixa-da-Égua, trabalhador ele era demais, e adquiriu muita coisa a custa do seu suor. Por fim ele fez um predião enorme do outro lado da grota da Baixa-da-Égua, esse prédio era para abrigar uma usina também muito grande, a ma-quinaria estava encomendada, enquanto eles corriam trabalhando dia e noite, arrumando piso, suporte de máquinas e tanta coisa, o galope tava arrochado. Antes do almoço os caminhões chegaram com a maquinaria. Um dos motoristas veio de lá e perguntou o que ele já sabia: - é aqui que vai ser instalada a usina de seu Manuel Borges? Manuel Borges exausto como es¬tava, estafado, enxada na mão, todo sujo, todo lascado, respondeu pro motorista dando ordem:

- Vocês manobrem os caminhões, entrem de marcha a ré até lá no fundo. Nós vamos almoçar e na volta e gente começa a descarregar. Falou Manuel Borges.

Os motoristas nem se aluiram do lugar perante o que acabaram de ouvir, continuaram ali quietinhos, até que um outro motorista voltou a se manifiestar: - nós queria falar era com seu Manuel Borges mesmo, pra saber como fazer. Foi aí que um dos seus filhos explicou aos motoristas que o Ma¬nuel Borges, apesar de não parecer, era aquele senhor que lhes deu a ordem. Mas, também pudera, naquele estado de conservação quem acreditaria que aquele traste era um empresário?
Seria preciso muito tempo pra eu poder falar de tantas pessoas, todas elas de especial valor no meio daquela Comunidade que eles iam transformando em cidade, pessoas que nem o Dodô, o ChiCO TOTÔ, O Antonio, o Paulo, o Alexandre, todos Andrades, o Julião, o Fernando Caroço, o Alípio Mulher e tantas senhoras da maior importância em minha vida.


Texto de Américo Ribeiro
Colaboração Maria Salete Carvalho Coêlho


20 comentários:

  1. Lobão,, sinceramente tentei ler isso e não consegui chegar nem a metade.. não é texto histórico, nem crônica, nem dissertação, que diabo é isso?? a escrita tem que ser agradavel, instigar o leitor... tem que ter um objetivo claro... isso aí é um monte de informações coloda de forma desinteressante...ficou muito chato, principalmente pela apologia descabida..tchau!!!!!!!

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  2. Deveras enfadonho esse texto. Deu-me sono. Os "posts" do Pedro Jorge são mais interessantes: curtos, grossos e com muitas pauladas na gramática.

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  3. É CARO LOBÃO, TENTEI CHEGAR AO FINAL, MAIS FICOU MUITO CHATO...CONHECI OS PERSONAGENS DA HISTÓRIA , GENTES MUITO BOA. DEVERIAS TER RESUMIDO MAIS...E APROVEITAVA O ESPAÇO PRA POSTAR OUTRAS HISTÓRIAS ARCAICAS...ABRAÇOS ! E COLOQUE COISAS NOVAS QUE AINDA NÃO SABEMOS TÁ ?

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  4. Lobao, que maravilha este texto depoimento, em linguagem cabocla.é por esse e potros cidaãos de tuntum que me orgulhor de filho desta terra maravilhosa. Ah! que saudade de tantos filhos de tuntum dignificam e fazem história do nosso municipio, como, Gerardo, Anfióquio, Luizao, Edesio, ARISTOM leda, Jose Uruçu, Luiz Gonzaga,Manoel valente, Dr. Medeiros, Nouga, e todos aqueles que trabalaram de forma honrada e deixam para outras gerações o legado do trabalho, da honradez. Ah! que saudedade daqueles tempos de ouros valores. pois, hoje o que vemos é uma sociedade transviada, perdida. Gestores corruptos, adolescentes envolvidos em drogas e prostituição. nOSSA QUERIDA TUNTUM HOJE está entregue a bandidos, onde hoje o valorizado é aquele que rasteja, que rouba, que engana.Fico feliz que ainda tenha um tuntuense com sentimen tao bonito. parabéns.Na verdade é EXEMPLO de cidadao que nos tita do vazio em que vivemos. como queria conhecer um irmao t[ao valoroso, como o outor destas poucas linhas. convido vc para tomarmos umas gelads no bar do chico andrade agora no carnaval.

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  5. Sinto muito, essa matéria é boba. Quando foi que ela comprou essa cidade??? Não entendí piticas nenhuma. Quem é américo? cronista, romancita etc etc etc etc etc. cara teu blog não emplaca nem apelando, concordo com o coment anterior, também prefiro as metralhadas de Pedro Jorge na gramática.

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  6. Lobao,pela primeira vez venho,por meio do seu blog parabeniza-lo por essa linda historia.Espero que voce post outras sobre personagens que contribuiram e muito para o crescimento de Tuntum.Uma historia dessa so poderia ter mesmo a contribuição de dona Salete,uma mulher muito inteligente e conhecedora dos fatos narrados. Parabens.

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  7. Cabocla É?
    tá mais com cara de formação incompleta do ginasial.

    Isso não é um texto,são as crônicas de judas perdeu as botas.

    Tava lendo os comentários, e carambolas, só tem eruditos aqui na cidade, era ditos disso,ditos daquilo, e ninguém fala mesmo nada.

    si..las tuntum


    Ai lobão filma nóis!

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  8. Lobão,
    Quem leu e não entendeu não conhece nem de perto as histórias maravilhosas de nossa Tuntum. Oarabéns ao Américo Ribeiro e Dona Salete. Só um pequeno equívoco: O Zeca Coêlho foi esposo da prefeita Rita Maria e faleceu no mesmo acidente que morreu seu irmão Coêlho, onde tambemn morreram as professoras Aparecida, Socorro e outras duas tambem que agora, no momento, não recordo os nomes.

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  9. E eu pensei que Tuntum era um municipio perdido no tempo, sem memória, sem passado, sem presente e de futuro incerto... No entanto, me deparo com esse texto escrito por um conterrâneo, que no anonimato nutre um amor pelo nosso torrão natal e, silenciosamente, tentando resgatar fatos e pessoas da nossa hostória. que lindo! parabéns!

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  10. parabensssssss gostei da materia comtinui asim abraço doa saleti genti muito especiallllllllll

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  11. Poderia ter sido um texto interessante não fosse tantos erros gramáticos, a extensão do mesmo, falta de conexão, está muito bagunçado, a intenção foi ótima, (há tuntum pertencia a Presidente Dutra, não a Barra de Corda.Mais valeu a intenção, pena que não adiantou muito porque acredito que ninguém leu o texto na integra.

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  12. Poderia ter sido um texto interessante não fosse tantos erros gramáticos, a extensão do mesmo, falta de conexão, está muito bagunçado, a intenção foi ótima, (há tuntum pertencia a Presidente Dutra, não a Barra de Corda.Mais valeu a intenção, pena que não adiantou muito porque acredito que ninguém leu o texto na integra.

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  13. ah gente não vamos exagera!

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  14. Lobão parabéns por resgatar um pouco da historia de Tuntum. O povo de Tuntum precisa conhecer a sua historia, pois um povo sem historia é um povo perdido no tempo.

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  15. Li e gostei. Espero ler mais "estórias" de Tuntum. Li até o final com muita curiosidade na esperança de ver ali alguma história da Usina de descaroçar algodão que existiu em Tuntum lá pelos idos de 1953,(que pena que ele não contou nada). Lobão instiga este contador de estória com mais história de Tuntum. Valeu!Luiz Augusto

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  16. VC É MEU FÃ LOBÃO! PARABENIZO PELO BOM TRABALHO QUE VEM MOSTRANDO AO POVO DE TUNTUM... PARABÉNS

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  17. A outra professora se chamava Marina.

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  18. lobao ,o tio ariston foi prefeito tambem em presidente dutra,alias foi o primeiro prefeito eleito pelo municipio de presidente dutra,e aqui nao existe uma rua ou praça com o nome dele,alem do tio adir(adilon)foi prefeito outro irmao deles o meu pai antenor arruda leda.

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  19. Parabéns Tio américo. Fico feliz de pertencer a familia Ribeiro, uma família que tanto ajudou o maranhão e na nossa família que vem, lá da pastos bons corre ainda o sangue da família coelho, sousa, pereira, ferreira e os ribeiros.
    Um grande abraço tio américo e dona Maria salete

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