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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Após 30 anos no corredor da morte homem é declarado inocente




Da: BBC Brasil
Anthony Ray Hinton tinha 29 anos anos quando foi condenado à morte por dois homicídios em 1985 nos Estados Unidos. Ele passou as últimas três décadas em uma prisão do Alabama até seu caso ser revisto recentemente - a condenação foi revertida após testes com as balas usadas nos crimes não comprovarem que elas haviam saído da arma encontrada na casa de Hinton.
Em entrevista à BBC, ele afirmou que a cor da sua pele foi determinante para a condenação. "Meu caso foi construído em cima de racismo e mentira", disse.
"Eles tinham apenas um jovem negro – eu tinha 29 anos e não tinha dinheiro – e isso nos Estados Unidos, especialmente no Sul, significa condenação."
Não houve testemunhas, nem impressões digitais encontradas que comprovassem a culpa de Hinton no homicídio de dois gerentes de restaurantes há 30 anos. O réu conta que tinha um álibi para comprovar sua inocência, mas que os investigadores nunca foram checá-lo.
"Eu estava no trabalho quando um dos crimes aconteceu. Isso não era o suficiente para eles. Eles nem mesmo começaram a checar meu álibi."
Hinton conta que procura viver 'um minuto de cada vez' agora que saiu da prisão e que sua maior tristeza é "estar livre e não poder ver sua mãe", que faleceu em 2002.
'Se fosse branco, não teria acontecido'
De acordo com Hinton, a própria polícia o havia 'sentenciado' antes do julgamento. "A polícia disse: 'primeiro de tudo, você é negro; segundo, você já teve passagem na prisão; terceiro, você terá um juiz branco; quarto, você provavelmente terá um júri branco; e quinto, quando a promotoria juntar tudo, você sabe o que vai dar: condenação, condenação, condenação, condenação, condenação."
Depois de 30 anos preso, o réu acredita que seu caso teria tido tratamento diferente se fosse branco.
"Acho que se eu fosse branco, eles teriam testado a arma e veriam que as balas não poderiam ter vindo dela, e eu teria sido libertado. Mas quando você é pobre e negro nos Estados Unidos, você tem grandes chances de ir para a cadeia por um crime que não cometeu."
Os promotores derrubaram o caso contra Anthony Ray Hinton depois que novos testes com as balas que mataram os dois gerentes contradisseram a única prova que alegadamente tinham contra o réu. Eles não conseguiram evidências de que as balas do crime haviam saído da arma que pertencia à mãe de Hinton.
Hinton, então, deixou a prisão onde estava no Alabama na última sexta-feira. O advogado dele, Bryan Stevenson, que fundou a Iniciativa para a Justiça Igualitária, tentou argumentar por anos que o caso contra seu cliente era um erro: que ele tinha um álibi para o momento que um dos crimes ocorreu, que passou pelo teste com o detector de mentiras logo que foi preso, e que nenhuma prova corroborou os resultados do teste de balística usado para condená-lo.
"Se ele tivesse dinheiro para pagar os especialistas de que precisava para provar que aquilo era mentira, ele nunca teria sido condenado", disse Stevenson.
Segundo o advogado, quando 'os melhores especialistas do país' comprovaram que as balas não poderiam ter saído da arma de Hinton, o Estado do Alabama continuou calado, e não reabriu o caso para fazer novos testes.
"Por 16 anos, Hinton passou tempo a mais preso no corredor da morte simplesmente porque o Estado não estava disposto a arriscar a percepção de que eles não são os 'bons' (no combate) do crime. Em vez disso decidiram arriscar a execução de uma pessoa inocente. Isso para mim foi a coisa mais vergonhosa desse caso."
O advogado diz que Hinton é a 152ª pessoa a ter sua condenação revertida após ter sido sentenciado à morte. "É uma estatística chocante de erros. Nenhum sistema toleraria isso. Mas a maioria das pessoas que estão no corredor da morte são pobres ou negras, e não parecemos nos importar tanto se elas são inocentes ou não."

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