Ex-governadora falou por 1h50 em Brasília
Globo e Estadão – A ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB), investigada na Operação Lava-Jato, prestou depoimento na Polícia Federal (PF). Segundo o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido como Kakay, ela negou qualquer participação em irregularidades investigadas na operação, que apura principalmente atos de corrupção envolvendo a Petrobras. De acordo com Kakay, o depoimento durou cerca de uma hora.
Roseana Sarney prestou depoimento na sede da Polícia Federal, em Brasília, nesta terça-feira, 19. As declarações duraram cerca de 1h50. No início de março, o Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para investigar a ex-governadora, após ela ser citada em delação premiada na Operação Lava Jato.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou em sua colaboração que ‘reuniu-se pessoalmente com Roseana em 2010 para tratar de propina’. As revelações de Costa e do doleiro Alberto Youssef, personagem central da Lava Jato, motivaram a abertura de inquéritos para investigar deputados, senadores, governadores e ex-governadores por ordem do STF.
As acusações contra Roseana foram extraídas de depoimento de Paulo Roberto Costa. Ele está colaborando com a Justiça em troca da redução da pena por meio de um acordo de delação premiada. O ex-diretor da Petrobras afirmou que em 2010 mandou entregar R$ 2 milhões em espécie para a campanha à reeleição da governadora, a pedido do então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, hoje senador pelo PMDB do Maranhão. De acordo com Paulo Roberto, ele se reuniu pessoalmente com Lobão, que teria lhe feito o pedido.
Paulo Roberto também declarou que se encontrou várias vezes com Roseana, seja no Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão, ou na casa da própria Roseana. E que, nas reuniões onde estavam apenas os dois, ela sempre perguntava se estava tudo acertado.
— Roseana nunca teve contatos pessoais com Paulo Roberto. Foi um depoimento muito tranquilo. Acho que inquérito está fadado a ser arquivado. Está baseado em Paulo Roberto, que ora diz uma coisa, ora diz outra — criticou Kakay.
Roseana Sarney estava morando em Miami com a família. Ela se mudou para a cidade, para fazer um curso de inglês. A ex-governadora voltou ao Brasil para prestar os esclarecimentos.
Na segunda-feira, no mesmo inquérito, o senador e ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão prestou depoimento na PF. Na ocasião, segundo Kakay, ele também negou qualquer participação nas irregularidades. O advogado, inclusive, já apresentou um recurso para arquivar o inquérito. Ele destaca que Paulo Roberto Costa entrou em contradição em outro depoimento, negando já ter falado reservadamente com Roseana. Segundo Kakay, os encontros entre Roseana e Paulo Roberto se davam na presença de outras autoridades, como a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na delação premiada, Paulo Roberto afirmou que o pagamento foi encaminhado ao doleiro Alberto Youssef, mas não soube dizer se foi ele mesmo que entregou o dinheiro ou se teria mandado um funcionário. O dinheiro teria saído “de uma espécie de caixa da propina”, que era administrado por Youssef. O doleiro, no entanto, disse que nunca manteve contato com Roseana ou com Lobão. Mas revelou que em 2010, a pedido de Paulo Roberto, entregou pessoalmente num hotel em São Paulo, R$ 2 milhões a um homem que o aguardava no quarto.
Ele disse não se lembrar o nome do interlocutor, mas afirmou acreditar que poderia se tratar de um motorista, porque “não parecia ser o dono do valor ou uma pessoa mais sofisticada, pelo tipo de roupa e pelo terno que utilizava”. Youssef também observou que, sobretudo no início do trabalho conjunto com Paulo Roberto, o ex-diretor nem sempre dizia o nome do destinatário do dinheiro