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terça-feira, 31 de julho de 2018

A participação de Bolsonaro no Roda Viva em 9 pontos


Nitidamente nervoso, o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, evidenciou todos os esforços para deixar claro um discurso voltado à economia no Roda Viva desta segunda-feira (30). Enquanto repetia todas as posições controversas em relação a mulheres, racismo e fazia ataque à esquerda e ampla defesa da ditadura, Bolsonaro tentava encaixar uma sinalização positiva ao mercado financeiro.
O tom do discurso iniciou com foco no público que ele quer agradar: o mercado. Já na primeira pergunta, disse que o país que ele quer é o de economia liberal. E finalizou em direção ao público que ele já tem: o que elegeu a esquerda como principal vilã. A entrevista terminou com a informação de que o livro de cabeceira do candidato é Verdade Sufocada, de Carlos Alberto Brilhante Ustra.
O coronel Ustra chefiou o DOI-Codi no período em que foram registrados mais de 500 casos de tortura órgão de repressão da ditadura militar. Foi ao coronel a quem Bolsonaro dedicou o seu voto favorável ao impeachment de Dilma Rousseff.
Com gancho da ditadura, Bolsonaro mirou contra a esquerda e atacou bandeiras como a política de cotas e a redução da maioridade penal. Ao mercado, defendeu a reforma da Previdência e criticou a burocracia para o empreendedor.
Bolsonaro disse que se for eleito vai propor ao Congresso Nacional que reduza o percentual das cotas de vagas nas universidades públicas reservadas a negros. “Eu não posso falar que vou terminar porque depende do Parlamento. Pelo menos diminuir o percentual. Vou propor, quem sabe a diminuição do percentual”, disse nesta segunda-feira (30).
O bloco foi iniciado com uma pergunta feita pelo Frei David, presidente da ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes), sobre educação da população negra. Questionado sobre a política de cotas, Bolsonaro afirmou não ver justiça nas cotas para negros, por entender que a ascensão às universidades e aos concursos públicos deve ser por merecimento.
Indagado se a política de cotas não seria uma resposta à divida histórica do Brasil com os afrodescendentes, derivada do tempo da escravidão, o presidenciável negou.
“Que dívida? Eu nunca escravizei ninguém na minha vida”, afirmou. “É justo a minha filha ser cotista? O negro não é melhor do que eu, e nem eu sou melhor do que o negro. Na Academia Militar das Agulhas Negras, vários negros se formaram comigo. Alguns abaixo de mim, alguns acima de mim, sem problema nenhum. Por que cotas?”, disse.
Em suas respostas, o deputado disse ainda que “se for ver a história realmente, os portugueses nem pisavam na África, eram os próprios negros que entregavam os escravos”.
Bolsonaro também foi instado a comentar a reportagem do jornal suíço Tribune de Genève que o chamou de misógino, racista e homofóbico. “Se eu sou racista, eu tinha que estar preso. Não tenho imunidade, se eu ofender um afrodescendente agora, impedir de entrar no elevador, isso é crime de racismo, tem que ser preso mesmo”, disse afirmando que o jornal faz “calúnias” contra ele. “A imprensa é quase toda de esquerda no mundo. O [presidente dos EUA, Donald] Trump sofreu muito com isso. Fake News!”.
Em abril do ano passado, o pré-candidato do PSL fez ataques contra quilombolas e indígenas durante um evento no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro. Para uma plateia de 300 pessoas disse que, se eleito, ia acabar com as reservas indígenas e quilombolas. Na ocasião, disse ter ido a um quilombo e afirmou “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”. “Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, comentou à época.
As declarações geraram uma denúncia por crime de racismo contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs feita pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ao ser questionado pelo colunista do jornal O Globo, Bernardo Mello Franco sobre o assunto, respondeu ter falado isso de “brincadeira” e disse que “se mandar cartinha para o Ministério Público, eles vão me investigar”.
“Se você mandar uma cartinha para o MP falando qualquer coisa, vão me investigar. Já respondi processo por carta anônima”, disse. Ele também negou ter cometido racismo contra os quilombolas. “Que ofendi? Eu fui lá, a pessoa que me referi, conheço a pessoa, se esse processo for avante, ela vai testemunhar ao meu favor. Falei que ele pesava oito arrobas. Pode ter sido um equívoco? Pode. Exagerei? Posso ter exagerado. Costumo fazer esse tipo de brincadeira com qualquer um”.
A pena para o crime atribuído a Jair Bolsonaro é de um a três anos de reclusão. A Procuradoria pede ainda pagamento mínimo de R$ 400 mil por danos morais coletivos. Para Dodge, a conduta do presidenciável é “ilícita, inaceitável e severamente reprovável”.
Jair Bolsonaro também responde a uma ação penal no STF pelo crime de incitação ao estupro. Em 2014, ele disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS) que não a estupraria porque “ela não merece”. O Supremo ainda acolheu uma queixa-crime contra o congressista por injúria.
Bolsonaro aparece em segundo lugar nas principais pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, atrás apenas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele lidera os cenários em que o petista não é testado.
Aqui os principais tópicos da entrevista.
Defesa do voto impresso
Antes mesmo de disputar as eleições, Bolsonaro já colocou o sistema em xeque. Lamentou que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou ao STF um parecer contrário ao voto impresso. Para ele, não tem como confiar nas urnas eletrônicas.
Bolsonaro, que participa de eleições há pelo menos 27 anos, afirmou que as eleições estão “sob suspeita”. Questionado sobre participar de um processo eleitoral que ele não considera legítimo, Bolsonaro respondeu: “Qual outro caminho eu tenho? Entregar para o PT ou PSDB. Vou estar na luta de qualquer maneira. (…) A aceitação é enorme quanto ao meu nome, o povo está vendo em mim confiança”.
Eduardo Cunha, corrupção e partidos políticos
“Raras vezes eu tive ao lado de Eduardo Cunha, gostaria de ter estado mais vezes ao lado dele. Agradeço a ele a aprovação do voto impresso”, disse.
Bolsonaro foi filiado ao PP, partido com mais parlamentares denunciados na Lava Jato, mas negou que tivesse conhecimento. “Não é porque estou naquele meio que sou corrupto”, se defendeu. Disse que sabia apenas que Paulo Maluf era acusado de corrupção.
Reforma da Previdência e economia
“Nós queremos apresentar uma proposta que vai ter chance de ser aprovada”, disse. Para ele, dá para apresentar uma reforma, “não necessariamente essa que está aí”. No comando dessas operações está Paulo Guedes, a quem Bolsonaro disse não ter plano B na necessidade de uma eventual substituição.
O candidato negou choque ideológico com Guedes, por ele ter fama de estatizante e Guedes por ser liberal.
Ainda em aceno ao mercado, Bolsonaro disse que é difícil ser patrão no Brasil, que o governo atrapalha o empreendedor e o trabalhador com a burocracia e fiscalização.
Ditadura
Em um dos ataques à esquerda, Bolsonaro questionou se a ex-presidente Dilma Rousseff lutou por democracia. Negou que abrirá os arquivos da ditadura e afirmou que essa é uma ferida que precisa ser cicatrizada. “Esquece isso aí, é daqui para frente”, minimizou.
Para ele, não houve golpe em 1964. “Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo do presidente na época foi o Parlamento. Era a regra em vigor.”
Política de cotas e racismo
Bolsonaro foi firme contra a política de cotas. “Porque essa política de dividir o Brasil? De dividir entre brancos e negros”, questionou. Questionado sobre como faria, então, para mitigar a dívida com a escravidão, ele disparou: “Mas que dívida? Eu nunca escravizei ninguém?”.
E afirmou na sequência: “Imagina o coração dos brancos como ficam, de tirar nota boa e não passar”.
O candidato que é denunciado por racismo afirmou que não viu racismo na fala que fez em relação aos quilombolas. “Não vi maldade nisso. (…) O racismo é você impedir um afrodescendente de fazer alguma coisa. É não promover um negro porque ele é negro.”
Questionado se acha que ofensa não é racismo, Bolsonaro respondeu: “Isso não é racismo. Isso que a Raquel Dodge entregou não é racismo, foi na brincadeira. Se você ver meu semblante, foi na brincadeira. Pode ser uma brincadeira infeliz? Pode, mas isso não é racismo”.
Trump brasileiro
“O que o Trump sofreu eu já vinha sofrendo há 3 anos na mídia brasileira. E ele está fazendo um excelente governo no seu país, diminuiu a carga tributária e resgatou o emprego. (…) Ele quer a América grande, eu quero o Brasil grande. Ele fala em Deus, eu também falo em Deus. Ele defende a família, eu também defendo a família.”
Mortalidade infantil
Questionado sobre mortalidade infantil, Bolsonaro afirmou, entre outros, que muitas gestantes “não dão bola para saúde bucal” e que muitos bebês que morrem são prematuros.
Armamento e maioridade penal
“Que guerra é essa que só um lado pode atirar?” Com essa declaração, Bolsonaro iniciou sua fala para defender carta branca aos policiais para poderem matar. “Você não vai matar? Deixa ele atirar em você e você dá uma florzinha para ele”, disse, em tom irônico.
Bolsonaro disse querer ter chance de reagir. “Quem não quiser ter arma que não tenha, eu defendo a legítima defesa.”
Embora tenha tido sua arma roubada em um assalto nos anos 1990, Bolsnaro afirmou que segue andando armado sempre que pode e que de vez em quando usa colete à prova de bala. “Não sou super-homem”, justificou.
Favorável à redução da maioridade penal, Bolsonaro disse que os jovens com idade entre 16 e 17 anos que cometem algum crime ficam “três anos de férias” nas instituições de reabilitação.
Xenofobia
Contrário aos refugiados, Bolsonaro negou xenofobia. “Porque nossa casa é o Brasil e qualquer um deve poder entrar? Isso não é xenofobia, é cuidar do seu País, da sua casa e ponto final.”

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