Revista Veja
Felipe Frazão, da Veja:
Uma crise na área de segurança pública pode comprometer os planos de
qualquer governante em ano eleitoral. Em 1992, o massacre no presídio
paulista do Carandiru, uma rebelião que terminou com 111 detentos
mortos, tornou-se marca indelével na trajetória do então governador Luiz
Antonio Fleury Filho, que hoje amarga o ostracismo político. Neste ano,
a grande questão no cenário eleitoral do Maranhão é se as mortes
bárbaras ocorridas dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas – com
decapitações e esquartejamentos – e fora dele, com ônibus incendiados e
uma menina de 6 anos queimada viva, terão impacto para destronar um
grupo político que governa o Estado há quase meio século.
A família Sarney
pretende lançar na disputa Luis Fernando Silva (PMDB), atual secretário
de Infraestrutura de Roseana. A governadora conta com o apoio do PT, que
indicou o vice-governador e tem secretarias no primeiro escalão. Porém,
no próprio PT a questão é controversa. Desde 2010, parte do diretório
estadual não aceita o acordo com a família Sarney, mas a ordem vem de
cima: a presidente Dilma Rousseff exige a manutenção da aliança – com
apoio dos Sarney, ela obteve 79% dos votos no Maranhão na eleição
passada. Quando a crise no sistema prisional se amplificou, Dilma se
apressou em socorrer os Sarney: enviou o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, ao Maranhão. A incursão de Cardozo, que apareceu nas
imagens de TV ao lado de Roseana anunciando uma parceria vaga entre os
governos federal e estadual, ajudou a aplacar a crise e tirar o Maranhão
do noticiário nacional.
“O PT hoje é nosso
parceiro, tanto nacionalmente como no Estado”, afirma o líder do PMDB na
Assembleia Legislativa, deputado estadual Roberto Costa. “A
possibilidade de reeditar a aliança é muito forte.” Costa diz que a
candidatura de Luis Fernando Silva terá ainda os apoios de DEM, PTB,
PSD, PV e uma série de legendas nanicas.
Trio – Por causa da
intervenção da direção nacional do PT na disputa em 2010, o comunista
Flávio Dino afirma que não mobilizará a estrutura do PCdoB pelo apoio
dos petistas. “Tem que deixar o PT decidir no tempo dele, já que a
decisão é nacional mesmo. Se o PT vier, vai ser muito bem-vindo”, diz
ele. “É uma contradição absoluta um partido que se autodenomina dos
trabalhadores apoiar o último dos coronéis brasileiros.”
Em sua conta, Dino soma o
apoio dos partidos Solidariedade, PDT, PP, Pros e o PTC, do prefeito de
São Luís, Edivaldo Holanda Júnior, cuja candidatura foi apadrinhada por
ele. Em uma jogada que interfere na disputa presidencial no Maranhão,
Dino prometeu ao vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha (PSB), a vaga
na chapa para disputar o Senado.
Riqueza – Roseana
afirmou em entrevista coletiva que o Maranhão “vai muito bem” e que uma
das explicações para a crise violenta é que “o Estado está mais rico”. O
governo maranhense comemorou no ano passado ter ultrapassado, por 17
reais, o pior PIB per capita do país, ostentado agora pelo Piauí (7.835
reais). O Maranhão tem o segundo pior (7.852 reais). Roseana desgastou
mais sua imagem ao vir à tona a informação de que ela iniciou a compra
de lagostas, uísque e caviar para o bufê do Palácio dos Leões. Das
janelas do prédio histórico, a governadora assistiu a uma passeata que
pedia “a devolução do Maranhão” – seguida de um pedido de impeachment
protocolado por advogados que militam em ONGs de Direitos Humanos.
“A violência é
lamentável, mas há uma ligação direta entre o que acontece dentro e fora
da penitenciária com o sistema político implantado, que está totalmente
comprometido com o patrimonialismo”, critica Dino.
De 2010 a 2013, os
homicídios em São Luís e na Região Metropolitana aumentaram 62% – de 499
para 807 casos, no ano passado. O crack invadiu o interior do Estado
(39 cidades declaram ter nível alto de problemas pelo consumo da droga,
segundo a Confederação Nacional dos Municípios). A violência tira a
tranquilidade do hábito nordestino de sentar na frente de casa para
prosear com os vizinhos à tarde.
O funcionalismo público,
principalmente no setor da Segurança, reclama da falta de estrutura e
principalmente de pessoal. O governo tenta concluir um concurso aberto
em 2012 para 2.400 vagas de policiais militares e civis. Em meio à onda
de violência, a gestão Roseana passou a exibir na TV uma propaganda em
que apresenta como inovação uma central de videomonitoramento instalada
no segundo semestre de 2013, em São Luís.
O sindicato dos agentes
penitenciários (Sindspem) aponta a terceirização como o fator que
fragilizou a segurança e permitiu a barbárie no Complexo Penitenciário
de Pedrinhas. O governo maranhense contratou duas empresas para
controlar os presídios, a VTI Tecnologia da Informação e a Atlântica
Segurança Técnica – que tem como representante Luiz Carlos Cantanhede
Fernandes, sócio do marido da governadora, Jorge Murad, em outra
empresa.
O clã Sarney também
enfrenta dificuldades em negociações com parlamentares aliados. No ano
passado, Roseana perdeu o ex-delegado e deputado estadual Raimundo
Cutrim, que se rebelou da base e migrou direto para a oposição – no
caso, o PCdoB. A insatisfação com o valor de emendas parlamentares no
“bloquinho”, um grupo minoritário de deputados que não aderiram
oficialmente à situação nem à situação, atrasou a votação do Orçamento
de 2014 na Assembleia Legislativa.
Até a crise chegar ao
Palácio dos Leões, em janeiro, o plano de Roseana era disputar uma
cadeira no Senado, o que a obrigaria a deixar o governo até o começo de
abril, prazo exigido pela Lei Eleitoral. Mas os planos estão parados.
“Existe uma indefinição por parte dela”, diz Roberto Costa, líder do seu
partido na Assembleia. Ainda é cedo para dimensionar o tamanho do
desgaste provocado pela selvageria de Pedrinhas no capital eleitoral dos
Sarney. Mas já é possível afirmar, segundo políticos maranhenses e
assessores do Palácio do Planalto, que o grupo enfrentará sua mais
complicada eleição em décadas de hegemonia.
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