sábado, 26 de abril de 2025

Prisão de Collor por ordem de Moraes acende alerta no bolsonarismo e alimenta temor de destino semelhante para o ex-presidente

 

Bolsonaro e o aliado Collor de Melo - Foto: Reprodução
Bolsonaro e o aliado Collor de Melo - Foto: Reprodução

Nada no Supremo Tribunal Federal acontece por acaso - e nada, sobretudo nas decisões de Alexandre de Moraes, é inocente ou desprovido de cálculo. A prisão imediata de Fernando Collor de Mello, determinada por Moraes na última quinta-feira (24), caiu como uma bomba no campo político. Mas foi entre os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro que o impacto reverberou com mais força - e com uma interpretação peculiar: para eles, Collor é apenas o prenúncio.

O argumento que circula nos bastidores da oposição é direto: se até Collor, condenado por corrupção num processo da Lava Jato, teve o trânsito em julgado certificado e foi preso sem alarde, com recurso considerado “protelatório” sendo limado pelo relator, por que não o mesmo com Bolsonaro, acusado de envolvimento em uma trama golpista? A analogia, ainda que juridicamente discutível, ganha corpo político em um momento de crescente tensão.

A própria forma como Collor foi preso reforça a tese de que o xadrez montado por Moraes está longe de ser aleatório. A decisão foi monocrática - sem esperar o plenário - e tomada num contexto de ampla jurisprudência da Corte, que vem permitindo a execução imediata da pena em casos considerados esgotados. Moraes usou a prerrogativa de reconhecer, sozinho, o caráter “meramente protelatório” do novo recurso apresentado por Collor. E ordenou sua prisão. Ponto.

Essa lógica - a de que recursos não servem para empurrar o processo com a barriga - é exatamente o que assusta a defesa de Bolsonaro, que ainda aposta em manobras dilatórias como forma de ganhar tempo até 2026. A comparação com Collor passa a ter menos a ver com o conteúdo dos processos e mais com a forma de sua execução: uma caneta afiada que não vacila diante da resistência.

Mais do que o conteúdo jurídico, a questão é o simbolismo. E simbolismo, na política, é tudo. Collor foi presidente. Bolsonaro também. Collor foi condenado e preso por ordem de Moraes. Bolsonaro está no encalço da mesma trilha, ainda que por motivos distintos - mas com o mesmo relator.

Há também o episódio da intimação de Bolsonaro dentro de uma UTI, o que foi lido por seus aliados como sinal de perseguição implacável. Mesmo que o procedimento tenha respaldo legal, o timing e o simbolismo da ação não passaram despercebidos.

Juristas mais críticos à atuação do STF alertam que a seletividade da Corte em casos de corrupção, especialmente no que tange a figuras ligadas ao atual governo, compromete a credibilidade do sistema. Sérgio Cabral, condenado a mais de 420 anos de prisão, por exemplo, está livre. Lula, condenado em duas instâncias, foi “descondenado” por decisão da própria Corte. Já Collor - antigo aliado de Bolsonaro - foi entregue às grades sem maiores obstáculos.

Do ponto de vista técnico, há distinções claras entre os processos. Mas do ponto de vista político, a prisão de Collor surge como termômetro: serve para mostrar que o Supremo tem força e disposição para executar sentenças, mesmo contra ex-presidentes. Serve também como aviso.

Analistas políticos mais céticos enxergam o movimento como parte de uma escalada estratégica: cada peça, cada decisão, cada despacho parece apontar para a construção de uma jurisprudência que mira não apenas Collor - mas quem vem logo depois dele na fila.

Seja coincidência, seja recado, o fato é que a prisão de Collor reabriu o jogo. E, nesse tabuleiro, todos os olhos estão em Alexandre de Moraes. Como um enxadrista paciente, ele avança peão por peão - até a hora do xeque-mate.

Nenhum comentário:

Postar um comentário