Vereador Valcenor retira de pauta Projeto de Lei que pretendia excluir o nome de São Raimundo Nonato do hino de Tuntum

 

Foi retirado de pauta da sessão legislativa da Câmara de Vereadores de Tuntum, o  Projeto de Lei do vereador Valcenor Soares de Carvalho (PL), que pretendia excluir o nome do padroeiro de Tuntum, São Raimundo Nonato, do hino municipal, acrescentando no lugar do verso que menciona "São Raimundo nosso Santo protetor", Jesus Cristo nosso grande redentor. O projeto já havia tramitado nas comissões internas da Casa e iria para votação hoje, mas bem antes da realização da sessão ordinária, o vereador comunicou a retirado do projeto da pauta do dia.

O editor deste veículo conversou com o vereador Valcenor Soares de Carvalho e perguntou sobre a decisão de retirar o projeto de votação. Muito convicto de suas ações, Valcenor afirmou no diálogo que não teve a intenção de causar polémica sobre o assunto, mas sua intenção era a de agradar os dois segmentos religiosos. Soares de Carvalho ainda destacou que respeita muito a Igreja Católica. 

Vereador Valcenor Soares de Carvalho 

- Lobão, eu não tive a intenção de brigar com quem quer que seja, principalmente com os católicos e com a própria igreja, que inclusive é muito grande e tem uma história muito bonita. A minha intenção, verdadeiramente, era a de agradar os dois lados. Eu respeito a Igreja Católica, não quero brigar com a Igreja Católica, inclusive minha filha casou na Igreja Católica. Eu coloquei o projeto porque queria incluir os dois lados. Como eu reconheço a grandeza da Igreja Católica, eu retirei o projeto. Quero dizer também que a iniciativa foi minha, ninguém me pediu para eu criar esse projeto. Quem não é contra Deus, é favor de Deus, destacou o parlamentar. 

Na expectativa de que o projeto fosse votado na manhã de hoje, muitos curiosos, estudantes e principalmente fiéis da Igreja Católica, fizeram-se presente na galeria da Casa Legislativa. Alguns vereadores, após a sessão, ainda chegaram a ser interpelados sobre o projeto e de como seria o posicionamento de alguns caso fosse levado a votação.  

Vereador Welington Pessoa 

O vereador Welington Pessoa, o primeiro a se manifestar contra o projeto, afirmou ao blog que já havia preparado uma nota pública esclarecendo os teores do projeto e o porquê de seu posicionamento, entendo que não havia motivos para tal alteração e que a letra do hino estava embasada na história e nos aspectos culturais do povo tuntuense. Veja a nota do vereador que seria publicada caso o projeto entrasse na pauta de votação. 

"Meus irmãos, irmãs da nossa querida cidade de Tuntum -MA e a todos que nos assistem nas redes sociais. 

Hoje venho a esta tribuna falar não apenas como vereador, mas como homem de fé. Falo como cidadão que tem suas convicções firmadas na Palavra de Deus. Minha fé está fundamentada unicamente na pessoa de Jesus Cristo, o único Senhor e Salvador das nossas vidas. É nEle que deposito minha confiança, minha esperança e minha adoração.

“Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.” (1 Coríntios 3:11)

Mas também sou parte de uma cidade com história, com símbolos, com tradições que nos unem e que moldaram a identidade do nosso povo. Entre essas **tradições históricas e culturais está **São Raimundo Nonato, reconhecido há gerações como padroeiro de nossa cidade.

E quem foi São Raimundo Nonato?

Um homem do século XIII, missionário da Ordem Mercedária, que se dedicou a resgatar cristãos escravizados. Chegou a oferecer sua própria liberdade para salvar outros. Foi torturado, teve a boca fechada com cadeado por pregar a Palavra de Deus. Viveu com coragem, fé e sacrifício — e é lembrado por isso.

Reconhecer essa história, *através da menção de sua pessoa no hino da nossa cidade , feito mesmo antes da Constituição Federal/88, nossa Carta Magna Fudamental,*  não me afasta da minha fé em Jesus.

Pelo contrário, me lembra que valores como compaixão, entrega e serviço são cristãos e devem ser lembrados . 

São Raimundo é uma figura histórica e para os tuntuenses também uma figura cultural, já que todos os anos, através de seu nome, temos o maior evento cultural da cidade o famoso festejo de São Raimundo Nonato comemorado no mês de agosto, que inclusive já foi declarado patrimônio cultural do estado por Lei, mesmo diante de tais fatos Eu não o adoro. Mas respeito o valor histórico e cultural  que ele representa para o nosso povo.

E aqui eu afirmo com toda convicção:

Cantar um hino que menciona São Raimundo Nonato não abala a minha fé.

Não altera aquilo em que creio. Não me desvia do Evangelho. Porque minha fé não está nas palavras de um hino que é símbolo da cidade e que não tem força espiritual e nem  normativa de obrigatoriedade, mas em Cristo, no poder de Deus, na graça que me alcançou.

“Olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé.” (Hebreus 12:2)

Mesmo que o hino diga “São Raimundo, nosso santo protetor”, entendo essa frase como parte da tradição cultural, e não como uma declaração de fé pessoal, uma obrigatoriedade de Cantar, através de Lei . 

O meu único protetor, Senhor e Salvador, é Jesus Cristo. E isso está firmemente estabelecido na minha consciência e na Palavra de Deus.

É preciso entender: o hino é uma expressão cívica, cultural e histórica — não é uma imposição de fé e também não tem força normativa de obrigatoriedade em cantar. 

Não é doutrina. Não é oração. Não obriga ninguém a crer , nem cantar . Serve para unir um povo em torno de sua história, sua identidade e seus símbolos. Modificá-lo, seria um erro à memória do nosso município e as tradições históricas e culturais . 

O próprio Supremo Tribunal Federal já afirmou:

“O Estado laico brasileiro não é um Estado antirreligioso, mas um Estado que assegura a liberdade de crença e o pluralismo religioso.”

(Ministro Luís Roberto Barroso – ADI 4439)

“Não há inconstitucionalidade na presença de símbolos religiosos ou referências culturais de origem religiosa em espaços públicos, desde que não haja imposição ou discriminação.”

(STF – ADI 5258)

Portanto, senhores e senhoras, manter essa referência no hino não impõe fé e obrigatoriedade a ninguém.

Não estamos obrigando ninguém a cultuar, nem ferindo a liberdade de crença de ninguém. Estamos preservando nossa identidade, nossas tradições , como povo, como cidade.

“Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens.” (Romanos 12:18)

Finalizo reafirmando minha fé em Jesus Cristo. Inabalável. Inquestionável. E reafirmo também meu compromisso com o respeito, com a paz e com o diálogo. Porque a verdadeira fé não agride. Ela constrói. Ela acolhe. Ela respeita".

O Conselho de Pastores de Tuntum também emitiu uma nota  aconselhando o vereador Valcenor a fazer uma avaliação de seu projeto e sua permanência na pauta de votação, que seria hoje (16). A nota ainda discorre que a proposta, mesmo bem intecionada, tinha provocado muita repercussão no meio social. Confira: