CAROLINA BRÍGIDO (O GLOBO)
BRASÍLIA –
Relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afirma que o governo do
Maranhão tem se mostrado incapaz de conter a corrupção, as torturas e
outras formas de violência no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, o
único do estado. Por isso, o órgão quer tomar a frente do caso e atuar
mais intensamente no presídio, para tentar evitar outras mortes e
desrespeito aos direitos humanos no local. O documento foi elaborado
após inspeção realizada no último dia 23 pelo CNJ e pelo Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP). Foram constatadas precariedade
das instalações, violência sexual contra parentes de presos e
maus-tratos contra os detentos. Neste ano, o presídio foi palco de 60
mortes.

“O
Estado tem se mostrado incapaz de apurar, com o rigor necessário, todos
os desvios por abuso de autoridade, tortura, outras formas de violência
e corrupção praticadas por agentes públicos. Assim, indicamos a
necessidade de atuação mais intensa deste Conselho com o objetivo de
motivar as instituições locais para o cumprimento das recomendações
anteriores deste Conselho, do CNMP e da própria OEA (Organização dos
Estados Americanos)”, diz o documento.
O
relatório leva a assinatura do juiz auxiliar do CNJ Douglas Martins,
que esteve no presídio em companhia do conselheiro do CNMP Alexandre
Berzosa Saliba. O documento foi entregue ao ministro Joaquim Barbosa,
presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF).
“O
número excessivo de mortes em um único ano é fato revelador da
necessidade da comunhão de esforços para organizar o sistema prisional
do Maranhão”, concluiu o juiz. “Verificou-se que as unidades estão
superlotadas e já não há mais condições para manter a integridade física
dos presos, seus familiares e de quem mais frequente os presídios de
Pedrinhas”, arrematou.
O
juiz se mostrou especialmente preocupado com a falta de vagas em
unidades de saúde para as internações cautelares e para o cumprimento
das medidas de segurança. Por essa deficiência, o poder público
encaminha doentes mentais para o sistema prisional. “Este fato por si só
já constitui grave violação de direitos humanos, mas poderá ter outras
consequências, tais como eventual extermínio dos doentes mentais”,
atesta Martins.
Ele
contou que, antes de entrar em cada pavilhão, era necessária negociação
com os líderes das facções. As grades das celas foram todas destruídas,
comprometendo a segurança dos visitantes e deixando os presos todos
misturados. “Esta impossibilidade de separação dos presos inviabiliza a
garantia de segurança mínima para os presos sem posto de comando nos
pavilhões”, constatou o juiz.
Ele
relatou que as visitas íntimas são todas realizadas nas celas, em
público. “Essa circunstância facilita o abuso sexual praticado contra
companheiras dos presos sem posto de comando nos pavilhões”, diz o
documento. Segundo Douglas Martins, as familiares e companheiras de
detentos são frequentemente estupradas por outros presos com mais poder
no local.
O
juiz ficou impressionado com a “extrema violência” das facções que
dominam o presídio. Martins conta que o presidente do sindicado dos
agentes penitenciários mostrou a ele um vídeo no qual aparece um preso
com a pele da perna dissecada, “expondo músculo, tendões, vasos e
ossos”. Em seguida, ele é morto por outros detentos.
Imagens:Gilberto Lima
O
Complexo Penitenciário de Pedrinhas possui vários estabelecimentos
prisionais em que está recolhida a maior parte dos presos do Maranhão.
Algumas cidades que enviam presos para o complexo estão localizadas há
mais de 800 quilômetros da capital. Segundo o relatório, a grande
concentração de presos, especialmente a mistura de detentos do interior
com os da capital, foi o principal fator para a criação de facções no
sistema prisional maranhense.
Em
novembro de 2010, ocorreu em uma das unidades de São Luís uma grande
rebelião, com 18 presos mortos, sendo três por decapitação. Em fevereiro
de 2011, na cidade de Pinheiro, a 80 quilômetros da capital, seis
presos detidos na delegacia foram mortos durante uma rebelião, sendo
três decapitados.
Em
seguida, o CNJ inspecionou a delegacia e constatou “superlotação,
estrutura precária, comando de facções, más condições de higiene, falta
de iluminação, alimentação inadequada, servidores desqualificados para
as funções e péssimas condições de segurança”.
Em
outubro deste ano, houve outra rebelião na Casa de Detenção no Complexo
Penitenciário de Pedrinhas. O resultado foi a destruição de várias
celas, nove detentos mortos e 30 feridos. Em seguida, o CNJ e o CNJ fez
inspeção em unidades do presídio e no hospital que atende os detentos.
Depois disso, houve outras quatro rebeliões em unidades diferentes de
Pedrinhas, com a morte de outros sete presos.
Muito bom o post, adorei o blog!
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