O presidente da Embratur, Flávio Dino, 
tornou-se a personificação do paradoxo. Adversário político da família 
Sarney, ele esteve, nesses últimos anos, subordinado ao ministro Gastão 
Vieira (Turismo), um apadrinhado do patriarca José Sarney. Na semana que
 vem, trocará o cargo que ocupa no governo de Dilma Rousseff por um 
projeto que tem como potenciais parceiros Aécio Neves e Eduardo Campos, 
os dois principais antagonistas da presidente.

Flávio Dino deixará a Embratur para encarar a campanha contra o grupo Sarney
 
Filiado ao PCdoB, uma logomarca que vem 
sempre enganchada ao PT, Dino se equipa para disputar o governo do 
Maranhão sem o apoio de Lula, Dilma e do petismo federal. Em entrevista 
ao blog, ele definiu como “um bom namoro” o esforço que realiza para 
atrair o PSDB e o PSB para sua coligação. Se a coisa evoluir para o 
“casamento”, como espera, Dino vai franquear seu palanque estadual a 
Aécio e Campos, os rivais de Dilma. “Serei um bom anfitrião de ambos”, 
declara.
O repórter perguntou a Dino por que Lula
 e Dilma preferem apoiar o candidato a ser indicado pelos Sarney a optar
 pelo nome do PCdoB. E ele: “…Não consigo crer que o presidente Lula ou a
 presidenta Dilma, com o conhecimento que têm da realidade do Estado, 
ignorem que esse regime político que lá está deve ser superado. Tenho 
certeza que os dois acham isso. Agora, qual vai ser a atitude concreta 
durante a campanha realmente eu não sei.”
Dino diz não ter desistido ainda do PT
Dino diz não ter desistido de incorporar
 o PT à sua caravana. Ele idealiza para o Maranhão algo que sucedeu no 
Acre em 1998. “Quando foi para derrotar o crime organizado, representado
 na ocasião pelo Hildebrando Pascoal e as forças políticas que ali se 
aglutinavam, houve uma aliança PT-PSDB, que levou à eleição do hoje 
senador Jorge Viana (PT).”
Não é um exagero comparar Roseana Sarney
 e o pai dela a Hildebrando Pascoal, o ex-deputado federal que se 
notabilizou por passar suas vítimas nas armas e na motosserra? Não, Dino
 não considera exagerada a comparação. “São modelos que concentram poder
 na mão de poucos e exercem esse poder às vezes com métodos que são 
ilegais. Esse é o sentido da comparação”, diz ele.
Dino prosseguiu: “Infelizmente, o Estado
 democrático de direito ou os valores da República não chegaram 
totalmente aos corredores do poder no Maranhão. Então, práticas ilegais 
são muito rotineiras lá. É esse o sentido da comparação. Há um pequeno 
grupo que concentra poder e riqueza e que mantém esse poder ilegalmente.
 Por isso é preciso uma ampla união de forças que tenham aptidão, 
vontade e coragem para enfrentar esse sistema de poder.”
Ponta de ironia 
Bem posto nas sondagens eleitorais, Dino
 se refere ao PT com uma ponta de ironia: “Assim como na Bíblia está 
registrado que ninguém serve a dois senhores, é preciso que o PT, 
afinal, trilhe o seu caminho [no Maranhão]. Enquanto isso, nós estamos 
buscando as composições com as forças locais que possam nos ajudar.”
O que ocorreria na cena federal se o PT 
do Maranhão rompesse com a família Sarney? “Tudo poderia acontecer, 
inclusive nada”, afirma Dino. “Acho que, mais provavelmente, nada.” O 
repórter insistiu: o senador Sarney não soltaria marimbondos de fogo? 
“Certamente não”. Para Dino, Sarney tem tantos interesses a defender no 
poder federal que “valorizaria esses interesses acima do mal-estar” 
maranhense.
Dino deixará a Embratur sem conseguir 
devolver para patamares razoáveis os preços a serem cobrados pelos 
hotéis brasileiros durante a Copa do Mundo. Desde o ano passado, a pasta
 do Turismo estima que os preços das diárias hoteleiras sofrerão 
variações de até 580%. “Creio que nós conseguimos evitar uma expansão 
ainda maior nos preços”, diz o ainda presidente da Embratur. Ele avalia 
que a situação “pelo menos não piorou”. Dino culpa a Fifa pelo 
descalabro.
“Foi o modelo de negócios adotado pela 
Fifa e pela Match [agência operadora da Fifa] que levou a uma escassez 
de apartamentos disponíveis no mercado. A Match se antecipou, fez 
contratos a preços muito altos com as redes hoteleiras. Contratou os 
apartamentos por 70% da tarifa-balcão, que nós sabemos que é uma tarifa 
irreal, que não é praticada. Sobre essa tarifa, a Match colocou a sua 
taxa de intermediação. Em alguns casos superior 40% sobre o valor do 
apartamento. Eles balizaram o preço para cima.”