São Luís, 24 de novembro de 2014
Senhores membros do Tribunal de Justiça do Maranhão,
Escrevo
 estas mal traçadas linhas não com o objetivo de ofender, agredir ou 
vilipendiar – como possa parecer a princípio, diante da soberania 
absoluta que vocês exigem. Na verdade, estas linhas devem ser entendidas
 como um desabafo, um apelo mesmo, quase que gritando: “POR FAVOR, 
DESÇAM DE SUA DEIDADE, DO 12º ANDAR DE SUAS POSSES E VEJAM MELHOR A VIDA
 COTIDIANA DOS SIMPLES MORTAIS!”
Meus 
caros desembargadores e juízes que parecem distantes da realidade das 
ruas, do dia-dia, do cotidiano do cidadão comum – por que protegidos 
pelos portões inquebrantáveis dos condomínios de luxo – será necessário 
que vocês enfrentem a dura realidade para entender a necessidade de uma 
rigidez maior contra bandidos, traficantes, assassinos e ladrões, que 
roubam, matam e dilaceram famílias?
Será 
que não passa pelas suas cabeças, no momento de assinar Habeas Corpus e 
Alvarás de Soltura, que aquele médico abatido por um bandido já inúmeras
 vezes presos, poderia, quem sabe daqui algum tempo, ser o salvador da 
vida de um de seus entes mais queridos? Seria possível imaginar – antes 
de assinar um desses documentos – que o assassino de policiais posto na 
rua por obra de suas mãos venha a ser, numa dessas infelicidades do 
destino, o autor da morte de um filho, uma filha, um ente qualquer de 
sua própria prole?  
Confesso
 aos senhores magistrados que fui até aconselhado a não escrever tal 
missiva, pois, na opinião desses conselheiros, poderia ser entendida 
como agressão, e gerar represálias por parte dos senhores. Mas também 
confesso, meritíssimos, que não consigo aceitar que uma peça 
jornalística, uma análise, ou mesmo uma opinião – por mais dura que seja
 – possa ofender ou agredir alguém que deveria estar preparado para tal 
função.
Por isso escrevo esta carta como uma espécie de alerta, muito mais que uma crítica.
Meus 
caros juízes, senhores das leis e dos destinos que lhe chegam no dia a 
dia: não lhes incomoda saber que a maior parte da sociedade vê nos 
senhores seres inatingíveis, inalcansáveis e pouco interessados na vida 
do cidadão comum? Como se sentem ao ler em jornais ou blogs, e vê na TV,
 a desconfiança de que são lenientes com os criminosos?
Os 
senhores membros da Associação de Magistrados, tão ciosa na defesa dos 
próprios interesses, não se incomodam ao ver a população, indefesa, 
cobrar mais rigor também em suas decisões contra bandidos?  Não
 lhes incomoda nem um pouco, caros senhores da lei, que tantos 
combatentes do crime, pais de família, estejam tombando diante de 
marginais que suas assinaturas puseram de volta às ruas?
E 
neste caso, magistrados, o rigor que peço não é no entendimento da lei 
ou na demonstração de conhecimento absoluto das regras e da fria norma 
de conduta, mas nas consequências de decisões que, embora possam parecer
 adequadas à essência jurídica, trazem danos irreparáveis à sociedade e à
 família.
Sei 
que é comum muitos senhores das leis sequer ler as decisões que assinam,
 elaboradas por séquitos de assessores em profusão, ávidos por mostrar 
ao chefe o entendimento perfeito das regras jurídicas; e por isso o beneplácito a muitos bandidos incorrigíveis.
Mas, 
meus caros desembargadores e juízes, seria ofensa demais pedir que, nas 
próximas decisões contra traficantes, ladrões e assassinos, os senhores 
possam esquecer um pouco mais a letra fria dos textos legais e levar em 
conta a realidade nua e crua das ruas? 
Seria possível substituir a exibição de poder pela consciência social do que seus atos podem produzir?
Quem 
lhes fala aqui, senhores juízes e desembargadores, é um pai de família 
assustado, amedrontado e desprovido da segurança que os senhores têm 
garantida constitucionalmente e financeiramente.
Mas um pai de família que ainda acredita na Justiça.
Com esperança,
Marco Aurélio D’Eça
Jornalista