Visto por aliados como o nome que vai furar a “bolha da esquerda”, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), admite não descartar uma chapa com o apresentador da TV Globo Luciano Huck para a Presidência, em 2022. Em entrevista no estúdio UOL/Folha, o político defendeu a aproximação com o centro para combater o que chama de “nazismo entronizado como política de Estado”. Ele rebateu críticas ao fato de ter mantido encontros com Huck para discutir sucessão presidencial e disse que prefere que o apresentador dialogue com ele do que com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Quando me reúno com Fernando Henrique, Luciano, Rodrigo Maia, não estou reunido com o indivíduo, estou mostrando que o segmento social tem representatividade”, afirmou. Nome cotado para a próxima disputa presidencial, Huck participou nesta semana do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça) junto com lideranças mundiais.
Como foi a conversa com Luciano Huck?
Muito positiva, ele foi muito gentil, apresentou uma concepção dele acerca da necessidade de haver diálogo na vida brasileira, conversamos um pouco sobre essas experiências. Eu lhe convidei para visitar o Maranhão. Não houve debate sobre 2022 porque não tem sentido prático, temos uma estrada muito longa até lá.
O senhor entraria numa chapa com Huck?
Isso dependeria, na verdade, do arranjo político que estaria junto com ele, ou com qualquer outro personagem. Sozinho, não faço nenhum tipo de aliança. Integro um partido político. Não posso descartar [a chapa com Huck], primeiro porque seria mal-educado da minha parte. Em segundo lugar, porque eu não sei exatamente para onde o conjunto de forças da esquerda vai caminhar.
O que Huck e o grupo dele pensam é muito divergente do que a esquerda pensa?
Certamente, é bastante divergente do que nós pensamos. Luciano não é militante da esquerda brasileira. Ele é do campo liberal. As pessoas com as quais ele dialoga são desse campo, com outra visão em relação aos problemas econômicos do Brasil. Agora, isso exclui o diálogo, a possibilidade de, num segundo turno, um apoiar ao outro? No segundo turno, você escolhe aquele que está mais próximo da sua concepção.
O senhor entraria numa chapa com o PT, com Lula ou Fernando Haddad, em 2022? Está muito longe para discutir chapa para 2022, ainda não fui nem convidado. É desrespeitoso discutir chapa agora porque significa estabelecer uma de linha de chegada, antes mesmo da partida, acaba excluindo pessoas. É hora de fazer com que a esquerda retome a iniciativa na sociedade.
Nunca tivemos um período de tanto retrocesso em direitos. Nem na ditadura militar houve tanta destruição do direito dos mais pobres. Veja como é difícil dizer isso, porque sou visceralmente crítico da ditadura militar. Nós temos que conter isto, e não vai ser a esquerda sozinha, não vai ser o PT, ou qualquer outra liderança.
Haddad e a esquerda não erraram em nada?
Claro que errou, mas errar é humano. Errou sobretudo em não ter conseguido ampliar, no segundo turno, na disputa com Bolsonaro. Nós, infelizmente, agregamos menos apoio do que ele. Não houve uma preparação para isto, talvez porque não houvesse a compreensão plena de que isso é imprescindível. Agora está demonstrado que é e eu não quero repetir 2022 a história de 2018, porque aí não precisa nem de eleição, a gente perde logo de saída.
Alguns aliados dizem que não seria possível a eleição de um integrante do Partido Comunista do Brasil para presidente. Também dizem que o comunismo é anticristão.
Os mesmos que diziam que eu não posso concorrer à presidência pelo PC do B são aqueles que achavam que eu jamais seria governador do Maranhão pelo PC do B. Nós vencemos, com o apoio de católicos, evangélicos e de outras religiões. Isso não constitui um obstáculo. Não é verdade que o PC do B seja um partido antirreligioso. Não vou discutir o que, no século 19, no país X ou Y foi feito. Nós somos um partido que tem pluralidade de várias religiões.