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José Remy Alves e Silva |
Na década de setenta chega em Tuntum
Frei Dionísio Guerra, de origem italiana.
Aquele sacerdote guerreiro, voluntarioso, intrépido, amigo, sonhador,
empreendedor e um grande construtor. Abandonou o primeiro mundo para doar-se ao
terceiro mundo com aquela vontade indômita de fazer o bem e assumir uma enorme
responsabilidade como pastor de uma jurisdição que ultrapassava os limites
geográficos do município de Tuntum, que ia de São Joaquim dos Melos a Santa
Vitória para levar a palavra de Deus através da Bíblia, seja evangelizando as
mulheres, homens e crianças, brancos e negros, ou levando um pouco de conforto,
um pouco de esperança, visando melhor qualidade de vida para o seu rebanho numa
época em que, não tínhamos estrada e o povo vivia num isolamento total,
abandonado a própria sorte, as desobrigas por ele chamadas, eram feitas a lombo
de animal uma maratona cansativa sem conforto nenhum, que só ele sabia cumprir
com devotado amor ao próximo. E ele chegava aos recantos mais bucólicos onde a
mão do Governo não alcançava, e inibia um processo que retirassem do isolamento
espiritual e material as pessoas que viviam esquecidas fora da sede do
município e os levasse rumo ao progresso e ao caminho da afirmação, do
desenvolvimento, do exercício da cidadania e da fé cristã.

A obra de Frei Dionísio está
consagrada não apenas na nossa MAJESTOSA Igreja que foi por ele concluída, mas
também na visão pastoral combinada com a gestão social, como também no seu
vigoroso empreendedorismo. Na visão revolucionária concebeu meios de implantar
a escola PAROQUIAL plantando a semente do saber que acendeu a chama
multiplicadora da alfabetização até o ensino médio, construiu oficina (prédio
das obras sociais) para instruir mulheres jovens e adultas dando-lhes
domesticidade quanto a: corte-costura, bordados, crochê, confeitaria,
serigrafia etc. E, ainda, para toda comunidade jovem montou uma escola de
datilografia “uma coqueluche na época, era como se hoje você tivesse fazendo curso
de informática adentrando ao mundo virtual e acessando as redes sociais”.
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Igreja Matriz |
Além disso, Frei Dionísio construiu
um convento e deu início ao noviciando abrigando jovens que tinham vocação
eclesiástica e pedagógica para ministrarem aulas na escola paroquial e orientar
seu jovem rebanho dentro dos preceitos da doutrina cristã, e aos sábados à
tarde a igreja ficava repleta, fervilhava de crianças (os moleques) e ele
tratava a todos de modo inteligente e sensível e dava início à catequese com a
força motriz que ele possuía cantarolando as musicas “Jesus Cristo” de Roberto
Carlos e o “Homem de Nazaré” de Antônio Marcus, com certeza impulsionado pelo o
Espírito Santo. O incansável sacerdote não parava, cuidava de sua pocilga,
aviário, adorava o hortifrutigranjeiro, distribuía os produtos de sua
horta. Tinha e conservava um belo pomar
e, atire a primeira pedra quem de meus contemporâneos nunca lhe furtou de boa
féuma uva, manga, tomate, laranja lima, goiaba etc.
Frei Dionísio sonhou, idealizou e
construiu. Trabalhando de forma tenaz instala uma oficina mecânica com
tornearia e serviço de lanternagem que ficava a cargo do Meia Noite ( o Meia Noite era o Chefe de sua oficina e
foi também o melhor zagueiro que Tuntum
já teve), trouxe da Itália um caminhão de marca Detroit (esse veículo foi usado
na 2ª guerra mundial, era rústico
fabricado todo de ferro, tracionado um verdadeiro trator), que foi apelidado
carinhosamente de “MODRONGO”, esse veículo
era utilizado nas desobrigas, pelas freiras, religiosas(os) e pela juventude
tuntuense transportando a banda os Dinâmicos da qual eu fui crooner (na década
de 70 a igreja tinha uma banda musical chamada de OS DINÂMICOS, os membros
Renatinho, Natan, Geovany, None, Sinhará, Múmia, Elimar, Meia Noite e outros que me falha a memória,
até por que a banda não tinha uma formação fixa e nós estudávamos em São Luís
tocávamos em bailinhos e trajávamos um visual Hippie, cabelos longos, barba
etc.), e o “MODRONGO” também servia para os passeios de final de semana, jogos
de futebol nas cidades circunvizinhas e
nos famosos piqueniques que eram realizados pelos açudes do Gerardo
Uruçu, Abelardo, Manoel Valente, Zé da Mata e até banhos de rio em Barra do
Corda.
O incansável construtor não dava
descanso para ele mesmo, abre uma fábrica de cerâmica e começa a fabricar piso
mosaico cerâmico, combogó e tijolos, com isso muda em Tuntum a cultura das
construções de casa com adobe cru e os velhos ladrilhos. E não para por aí,
passa a fabricar móveis tanto para a população como para as igrejas católicas e
evangélicas e residências do complexo que faziam parte de sua paróquia. O
predestinado eleito de Deus, com certeza, analisou a juventude tuntuense e viu
a sua carência na área da cultura, esporte e lazer, inaugurando um cinema “O
CANEQUINHO, esse espaço cultural foi batizado com esse nome devido em Tuntum já
existir uma sala de cinema com o nome CANECÃO, e aí a moçada aproveitou a deixa, e o denominou
carinhosamente com esse nome, vale ressaltar que o preço dos ingressos era bem
acessível, o nosso Pároco era um visionário e pensava em tudo” e assim chegando
ao nosso PRINCIPADO a sétima arte, esse espaço por ele criado era também
transformado em teatro para encenação de peças teatrais principalmente de cunho
Bíblico Religioso. Após esses feitos funda o JAPREC – Juventude Associativa
Paroquial Recreativa Esportiva e Cultural, que era nosso clube, nosso espaço
“dance” na época da jovem guarda e ali dançávamos ao som do Rei Roberto Carlos,
Jerry Adriane, Martinha, Paulo Sergio, Erasmo Carlos, Fevers, Renato e seus
Blue Caps, Antônio Marcus, Vanusa, Wanderléya, Incríveis, Pholhas, Beatles,
Pink Floyd, Rolling Stone e Bob Dylan
etc. Antes da criação desse clube os bailes eram realizados nas
residências do Gerardo Uruçu, Anfiloquio, Tônico Coletor, Tônico Saraiva, nos
colégios Bandeirante, Comercial e no auditório do Município que ficava onde
hoje é a Prefeitura Municipal, após o Edino funda o clube dos 200 e o Hosmy
Carvalho funda boate Laguna.
Frei Dionísio era de um dinamismo
contagiante! Construiu em Tuntum o estádio Dom Adolfo Bossi hoje desativado, uma pena! Na
sua sagração eu o vi eufórico entregando aquele monumento majestoso para a
juventude, e ali, naquele palco esportivo eu vi os craques Tuntuenses
construírem belíssimas jogadas a exemplo, do Elimar, Tema, Raimundinho, Meia
Noite, Pé de Ouro, Tucá, Chico Cunha, Piudo, Aroaldo, Neco e Dedé do Leor,
Serra Grande, Chiquinho Sertão, Chico Engole, Mirulão, João do Ozano, Raimundo
e César Saraiva, Zeca Firme e Roberval e
até eu fiz algumas firulas, lembra Wagno Lobão?! E que viesse os times de São
Luís, Teresina, Caxias, Codó e Imperatriz e quem não tem saudade de ter
assistido um jogo sentado ao lado do Frei Dionísio tendo próximo, o João Velho,
Mudim, Júlio Dantas, Seu Dodô, Chico Batista, Mestre Riba, Mestre Elias,
Dêjinha entre outras figuraças do nosso torrão Tupiniquim, comandada pelos
técnicos Rogerão, Almir Lacerda e Aquiles, isso tudo, em um 31 de agosto com a
praça, o estádio e as ruas fervilhando de gente, vaqueiros vestidos a rigor com
Gibão de couro e tudo que tem direito, inclusive cheios da manguaça, e a bola
rolava na cadencia do SOM irradiado pelos amplificadores, boca de ferro da
nossa MAJESTOSA igreja (nossa
Igreja é uma das mais belas do Brasil, pena que hoje não é mais a mesma, foi DESCARACTERIZADA
por dentro, ferindo a memória de Frei Pedro Jorge, Frei Felix e Frei
Liberato, homens que tiveram a inspiração divina para ornamentar seu interior
com gravuras de passagem bíblica,
sua frente está cercada com grades metálica tem-se a impressão de que o
nosso templo sagrado está SEGREGADO aos fiéis, o que não ocorria em épocas anteriores, enquanto isso outras
religiões ficam com as portas de
seus templos aberto 24 horas, é uma
pena!), tocando “TRISTE PARTIDA”
cantarolando assim “... Meu Deus, meu Deus, setembro chegou outubro e novembro,
já estamos em dezembro meu Deus, que é de nós, meu Deus, meu Deus assim fala o
pobre do seco Nordeste com medo da peste da fome feroz AI, ai, ai, ai ...” musica
de Luiz Gonzaga o Rei do Baião, TEMA oficial dos Festejos de São
Raimundo Nonato que foi escolhida e
imortalizada nos corações e na memória dos Tuntunenses pelo nosso brioso
sacerdote.
Frei Dionísio, no sentido espiritual
e paternal, todos o tivemos como Pai ou como Avô, pela gratidão e pela
imensidão do amor tão grande que lhe devotamos e que fica para sempre, posto
que, derivado do reflexo das bênçãos que Frei Dionísio nos legou, pessoas como
ele jamais morrerão, enquanto o ser humano cultivar a virtude da gratidão para
reverenciar os espíritos generosos, que nos deixaram exemplos dignificantes, a
partir de um trabalho hercúleo, bem fecundo, que traduziu a Mão de Deus,
enviando um anjo, na figura exemplar de Frei Dionísio, para nos ajudar a sermos
melhores cidadãos, cristãos mais virtuosos, pessoas mais felizes, esperançosas
e realizadas. O Santo Padre nos deixou o legado de bom cristão e amor ao
próximo, suas lições de vida nos enobreceram e hoje atuando na milícia
CELESTIAL lá em cima é nosso embaixador, nosso zeloso guardador e que o vosso
espírito de bondade nos conduza pelo caminho da retidão nos abençoando todos os
dias. Santo Padre infinita graças vos damos Luz Divina e fiel consolador dos
aflitos, penetrai nos abismos profundos dos corações tuntuense
os tornando dóceis e fiel ao Criador. Rogai por nós Frei Dionísio. A BENÇÃO
GUERREIRO DE DEUS.
José Remy é historiador, escritor e administrador da Infraero em Tabatinga-Am.
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