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candidato ao governo do Maranhão, Flávio Dino, após votar na Escola
Clarindo Santiago, no bairro Olho D’Água – SÉRGIO CASTRO / Agência O
Globo
POR CHICO DE GOIS – O Globo
O governador eleito do Maranhão, Flávio
Dino (PC do B), avalia que sua vitória sobre o candidato apoiado pela
família Sarney significa um sinal de mudança importante para o país e
prometeu como meta principal de seu governo elevar o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado – atualmente é de 0,639 e só é
melhor que o de Alagoas. Atacado na propaganda eleitoral como um
candidato que iria implantar o comunismo no Maranhão, Flávio Dino
divertiu-se com as acusações e afirmou que, ao contrário do que diziam
seus opositores, vai apostar no capitalismo para alavancar o
desenvolvimento do estado. Sobre o apoio no segundo turno das eleições
presidenciais, disse que a tendência é se manter neutro, uma vez que,
embora reconheça que Aécio Neves (PSDB) tenha se engajado em sua
campanha, ao contrário do PT, pondera que, em nível nacional, seu
partido está com Dilma Rousseff (PT). Abaixo, os principais trechos da
entrevista concedida ao GLOBO.
O GLOBO: O que significa para o Maranhão e para o Brasil sua vitória sobre o clã Sarney?
FLÁVIO DINO: Para o
Brasil é muito bom que o coronelismo mais longevo da vida republicana
tenha sido derrotado. Acho que é um sinal de mudanças importantes para o
país. Para o Maranhão, significa romper amarras que entravavam o
desenvolvimento do Estado, uma vez que temos uma contradição: um estado
potencialmente rico, com péssimos índices sociais. Como não há
explicações econômicas ou sobrenaturais para isso, as explicações são
políticas, que é o patrimonialismo, ou seja, a submissão dos recursos
públicos à lógica da acumulação privada.
O GLOBO: O que o senhor pretende mudar no governo?
FLÁVIO DINO: Primeiro
lugar, as questões relativas à probidade, honestidade, transparência,
boa aplicação do recurso público, separar a esfera pública da privada.
Quem quiser fazer negócios deve fazer no mercado, não dentro do governo.
A segunda mudança diz respeito ao foco: nosso foco é melhorar o IDH do
Maranhão. Reconhecer as dificuldades sociais é o primeiro passo para
superá-las. A terceira questão é de atitude: um governo que seja
acessível à sociedade, diferente da lógica estamental que eles sempre
adotaram.
O GLOBO: De que forma o senhor pretende melhorar o IDH?
FLÁVIO DINO: Uma
conjugação de três vertentes: parcerias com o governo federal; recursos
próprios, que estarão disponíveis à medida que você diminui gastos
suntuosos, a corrupção e esse padrão parasitário, e, em terceiro lugar, o
desenvolvimento da atividade econômica do Maranhão. Isso vai se dar a
partir das cadeias produtivas existentes. Vamos estimular os
investidores privados, para que acreditem que existem regras do jogo e
que ninguém no governo vai querer ser sócio deles. Esse é o caminho mais
rápido para melhorar o IDH, que é melhorar a renda. Tenho uma obsessão
que é, desde o primeiro dia, mostrar resultados.
O GLOBO: Na campanha, seu
adversário quis vinculá-lo ao comunismo, afirmando que seria um caos se
um comunista assumisse o poder no estado. O que vai ser o estado
comunista?
FLÁVIO DINO: É um estado
que, em primeiro lugar, tem capitalismo. Acho que eles tinham mais medo
do capitalismo do que do comunismo. Eles são empresários do dinheiro
público. Não são empreendedores. Na hora que você instala o capitalismo,
você expõe as empresas deles a uma situação de mercado. Por exemplo: a
construtora do Edinho Lobão construiu um prédio residencial e os
apartamentos não venderam. O que ele fez: estatizou o prejuízo. Alugou o
prédio para o governo do estado. Isso não é capitalismo. Vamos ter uma
relação boa com o setor privado. Agora, é um governo que tem um
governante com posição ideológica. Sou uma pessoa de esquerda que
acredita na busca da igualdade como valor humanista e religioso.
O GLOBO: O PCdoB sempre foi fiel
aliado do PT, mas na sua campanha o PT não o apoiou. Como o senhor
avalia essa questão e qual será seu posicionamento em relação aos dois
candidatos?
FLÁVIO DINO: Eu lutei
muito para ter o apoio do PT. Mas o PT escolheu seu caminho, segundo
suas conveniências, que respeito. Fiz uma aliança muito forte com o PSB,
que teve o senador na minha chapa, e com o PSDB, com meu vice. Eu não
posso, no segundo turno, ignorar tudo isso. Por outro lado, tenho de
colocar na balança que eu compus o governo da Dilma e o meu partido
apoia Dilma. A síntese mais provável neste momento, que ainda estou
discutindo, é cada partido fazer campanha para seu candidato, e eu
mantenho a posição que mantive no primeiro turno, de equidistância em
razão desse histórico, sem declarar apoio a ninguém.
O GLOBO: Jackson Lago (PDT)
também derrotou a família Sarney, em 2006, e enfrentou uma oposição
avassaladora. A Assembleia Legislativa eleita garante ao senhor apenas
25% dos votos. O senhor não teme passar pela mesma coisa?
FLÁVIO DINO: Temos um
pouco mais de apoio porque há gente que estava na outra coligação e
passou a me apoiar. Não temos maioria, mas vamos ter. Há uma diferença
substantiva entre a minha administração e a do Jackson Lago: quando ele
assumiu, o Sarney era presidente do Senado, e Roseana, senadora. Eles
usaram intencionalmente isso para sabotar o governo. Eu não terei esse
azar. A estrutura de mídia deles provavelmente vai fazer uma oposição
dura, mas isso é da vida. Que eles façam uma boa oposição.
O GLOBO: O senhor pretende fazer um pente fino nos contratos ou reduzir o número de secretarias, por exemplo?
FLÁVIO DINO: Em relação à
máquina, há muitos nomeados que não trabalham e não vamos manter isso.
Com isso, vamos eliminar alguns cargos que são dispensáveis. Não vamos
fazer uma auditoria geral, para paralisar todos os contratos. A minha
premissa é que os contratos estão corretos. O que vamos fazer é que,
quando olhar um contrato cujo objeto não está sendo realizado ou está
superfaturado, aí, sim, auditar aquele contrato. Não vamos fazer
condescendência criminal nem seremos sócios de irregularidades do
passado, por um dever jurídico.
O GLOBO: Voltando no governo
Jackson, no curto tempo em que ele ficou no governo acabou repetindo
erros que criticava, como nomear parentes para a administração. O senhor
vai nomear parentes?
FLÁVIO DINO: Não vou
nomear nenhum parente meu. A gente sempre trabalhou muito, de verdade.
Meus irmãos todos têm seu trabalho, meu pai e minha mãe estão
aposentados, e meus filhos são crianças ainda. Mas não estou julgando o
governo de Jackson. Não vou nomear parente e nenhum parente meu terá
negócios com o governo.