quinta-feira, 7 de abril de 2016

Derrota do impeachment na Câmara zeraria o jogo, diz Flávio Dino ao jornal Valor


Para Dino, o impeachment seria a ruptura do "pacto político supremo que é a Constituição". "O impeachment de Dilma seria uma ferida muito profunda, que demoraria muitos anos para se cicatrizar", diz.
O governador diz que haverá forte "resistência e mobilização social" se o impeachment passar e afirma que as manifestações deverão durar até 2018, o que manteria o conflito político no país, mesmo sem Dilma na Presidência.
Por Tainara Machado e Cristiane Agostine
Valor
Aliado histórico do PT, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), defende que a possível vitória da presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment na Câmara "zere o jogo" e acabe com a crise política que engessou o governo federal. No dia seguinte à votação do pedido de saída da presidente do cargo, afirma o governador, a gestão Dilma deveria apelar ao "bom senso" e buscar um acordo com a oposição, por meio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e com empresários favoráveis ao impeachment. "A Fiesp vai continuar na Av. Paulista. Uma vez derrotada em sua tese em abril, não poderá ser ignorada em maio", avalia o governador.
Segundo Dino, o diálogo deve ficar sob responsabilidade da própria presidente, e não do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Dino diz ter "certeza analítica" de que a presidente conseguirá os votos necessários para derrotar o impeachment na Câmara, ao conquistar deputados que estão "indecisos" e "suscetíveis a algum tipo de repactuação". Passado o processo, diz, é preciso reconstruir a base de apoio no Congresso. "A derrota do impeachment zera o jogo e possibilita que reconstrua base parlamentar a partir disso", afirmou o governador, em entrevista ao Valor. "Não penso que qualquer setor político responsável e comprometido com o país imagine a eternização de guerra de todos contra todos, que temos hoje. É um quadro complexo e preocupante, com efeitos econômicos e sociais".Após a votação, afirma Dino, cabe sobretudo a presidente Dilma e a lideranças como os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique "encontrarem um caminho de consenso geral" para negociar uma "agenda de retomada do crescimento" e de "reformas estruturais". Na opinião do governador, a presidente precisa também pactuar com a oposição o "respeito às regras do jogo até 2018" e sua manutenção no cargo até o fim dos quatro anos do mandato.Dino não acredita que alianças com os partidos de centro, como PP e PR, possam significar uma guinada do governo à direita. Segundo o governador, a convicção de que Dilma conseguirá debelar o processo de impeachment parte justamente das bases sociais do governo. A presidente pode ter que fazer concessões - a proposta de reforma da Previdência, por exemplo, pode ser discutida, embora não tenha seu apoio -, mas sem "sacrificar o núcleo da agenda que foi confirmada quatro vezes seguidas nas urnas".Dino sugere que a nova carta aos brasileiros, que estaria sendo formulada por Lula para reconquistar a confiança de empresários e retomar a governabilidade, trate do tema que une a nação hoje: "a crise econômica". Segundo o governador, isso só será possível com pacto nacional para deslanchar investimentos públicos e privados, com aumento do crédito via bancos públicos, além de concessões de obras de infraestrutura.O governador acredita que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, teria condições para conduzir a política econômica no período de construção de consensos por ter conseguido virar a página da "agenda monotemática" do ajuste fiscal ao colocar o debate em termos mais bem acabados. "Há uma agenda imediata a ser perseguida [para retomar o crescimento] e medidas de longo prazo que também precisam ser discutidas", pondera o governador.Segundo Dino, Barbosa deu alguns passos acertados nos últimos meses, entre eles a renegociação das dívidas com os Estados, projeto que está em tramitação na Câmara. Para o governador, o alongamento das dívidas é urgente, mas as contrapartidas de aperto exigidas dos Estados podem ser discutidas em prazos mais alongados. "O essencial agora é a renegociação, não para os governadores, mas para o país", diz. Ainda na carta, afirma, é preciso constar que a Operação Lava-Jato vai continuar. "É preciso que haja entendimento de que a Polícia Federal, o Ministério Público façam aquilo que consideram que deve ser feito, nos termos da lei; e de outro lado, a política siga cumprindo seu papel, que é resolver os problemas do povo".À frente do Estado onde Dilma obteve uma de suas maiores votações em 2014, com 69,5% no primeiro turno, Dino diz que o processo de impeachment em discussão na Câmara é "totalmente absurdo" e critica como 'frágil" o voto apresentado ontem pelo deputado Jovair Arantes (PTB-GO), relator na comissão na Câmara que analisa o caso. "É um debate tão longe dos sentimentos da sociedade, tão desfocado, distorcido de conceitos jurídicos que obviamente um voto tão frágil não vai prevalecer", diz.O impeachment, no entanto, não está descartado e o governador analisa que a gestão Dilma precisa barrar o processo na Câmara porque se o pedido for aprovado pelos deputados, também será aceito no Senado.Para Dino, o impeachment seria a ruptura do "pacto político supremo que é a Constituição". "Seria uma ferida muito profunda, que demoraria muitos anos para se cicatrizar porque não é algo qualquer ou usual romper as regras do jogo democrático e rasgar a Constituição".
O governador diz que haverá forte "resistência e mobilização social" se o impeachment passar e afirma que as manifestações deverão durar até 2018, o que manteria o conflito político no país, mesmo sem Dilma na Presidência. "Se a busca de estabilidade política é fundamental para a retomada do crescimento econômico, é mais fácil alcançar isso com respeito às regras do jogo e continuidade do mandato de Dilma em 2018 do que mediante à ruptura golpista".

Um comentário: