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Editorial do JP
Sarney governou, durante o correr de sua vida, o mais longo império político do Brasil, instalado no Maranhão. Em quase 50 anos de poder, submeteu a quase tudo e quase todos à sua vontade. Seus tentáculos invadiram e submeteram as instituições públicas e se assenhoreou do Poder Legislativo e do Poder Judiciário onde praticamente só se elegeram os que ele quis e só se tornaram desembargadores os que ele permitiu.
Em outros tempos, nem mesmo um delegado de polícia era nomeado ou permanecia no cargo se não se submetesse a esse poder, à vontade do seu grupo político. Se havia uma eleição na Ordem dos Advogados do Brasil ou no Conselho Regional de Medicina do Maranhão, por exemplo, perguntavam logo quem era o candidato de Sarney, e era nessa candidatura que todos apostavam. Sarney comprou e corrompeu partidos políticos, como fez com o PMDB, como fez com o PT, mais recentemente. Até em eleições de associações de moradores esse poder se infiltrou, através de seus filhos, netos e prepostos. Dominou a Câmara Municipal de São Luís a vida toda e domina até hoje. Contra a vontade do povo, a maioria dos vereadores defende o seu candidato.
É provável que, mascarado de democracia, nunca tenha existido um domínio tão onipresente no Brasil. Ficou rico quem Sarney quis, ficou pobre quem ele ordenou. A aposta, para tanto, foi o analfabetismo, o atraso, a miséria do povo, o monopólio dos meios de comunicação, as alianças políticas com ‘Deus e o Diabo’, inclusive, e principalmente, com os generais da ditadura militar.
E o Império durou tanto que apodreceu por dentro. A grande maioria dos que o seguiram se sentiu no direito de avançar no dinheiro público, pois, sendo correligionário de Sarney, para todos os efeitos lhes estava garantida a impunidade. E o Maranhão, como mostram todas essas denúncias quase semanais, transformou-se na Meca da Corrupção, o território livre da improbidade administrativa, do crime contra o patrimônio público e do crime organizado. Basta lembrar Nenzim, em Barra do Corda; o recente escândalo de Anapurus e Mata Roma, também noticiado pela Globo; a agiotagem política partindo de dentro das instituições públicas do Estado como exemplo do mal que o poder de Sarney causou ao Maranhão. E agora, cúmulo de toda a falta de decência, a notícia de que bandidos presos pagaram propina ao governo do Maranhão.
Foi tanto poder que Sarney fez calar um órgão de imprensa nacional, o jornal O Estado de São Paulo; tanto, que cassou um governador, obrigando um tribunal superior a transgredir a lei; tanto, que o Império apodreceu e está caindo de podre. Todo tipo de crime contra a administração pública parece estar sendo cometido, dia e noite, no Maranhão. Todas as notícias relativas a esse Estado tratam de um único assunto: corrupção, corrupção e mais corrupção.
Para quem se arvora de escritor e um dia tentou ser poeta, é a forma mais ridícula de se despedir da vida pública. Como uma figura negativa aos olhos de toda a Nação