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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Quais as verdadeiras razões da renúncia do Papa?



Mesmo que com elegância, inteligência e dedicação, Bento XVI desde que assumiu o Vaticano há 8 anos, nunca conseguiu, efetivamente, marcar seu pontificado, fato que seu antecessor João Paulo II, nos mais de 20 anos de papado, fez.




(*) Mhario Lincoln


Nas palavras do Papa Bento XVI: “(...) o celibato é uma antecipação do céu.” (...)”.



O mundo acordou hoje chocado com a pré-renúncia do Papa Bento XVI, cujo último dia de papado será 28 de fevereiro, até às 20 horas. Em seu lugar assume (pro tempore) um auxiliar direto do Vaticano chamado de Carmelengo. E quem é?
O Carmelengo da Igreja Católica é o administrador da propriedade e receita da Santa Sé; suas responsabilidades incluem a administração fiscal do Patrimônio de São Pedro e a administração da Igreja Católica na morte ou renúncia do Papa, até a eleição do substituto, fato que pode durar por um mês.
Já a renúncia de um Papa está prevista no Código de Direito Canônico: "Se o Romano pontífice renunciar a seu ofício, requer-se para a validade que a renúncia seja livre e se manifeste formalmente, mas que não seja aceita por ninguém", estabelece o cânone 332,2 do Código de Direito Canônico, único elemento válido para julgar o tema.
Porém, pelo que foi divulgado, inclusive pela nota oficial de Bento XVI, a questão saúde física foi a gota d’água para a renúncia.  Há, porém, dúvidas com relação especificamente a essa questão. “Não é doença, mas cansaço físico”, dizem vaticanólogos.
A questão da saúde física do Papa, sem dúvida, se manifesta em pontos controversos onde ele não conseguiu mais forças para sustentar com vigor suas considerações diante de quatro temas que insistem ser as pedras no sapato do Vaticano e, principalmente, de sua administração:
 
1 – A questão do Casamento Gay;
2 – A questão das Células-Tronco;
3 – As denúncias de Pedofilia na Igreja; e
4 – O Casamento de Padres.
 
Esses, sim, são os pontos fundamentais que podem ter apressado a renúncia do Papa Paulo XVI. Se não, vejamos.
O Cargo de Papa é tão importante para a humanidade católica (e para alguns não católicos também) que nunca na história da Igreja um pontífice renuncia ao cargo com essa idade de 85 anos. (Faz 86 em abril/13).
Para se ter uma ideia, até Bento XVI anunciar sua renúncia, a última vez que um Papa abdicou do cargo foi há quase 600 anos. Em 1415, o Papa Gregório XII quis sair do cargo para encerrar uma disputa com um candidato rival à Santa Sé.
Desta vez, forças ocultas – como diria Jânio Quadros – também influenciaram em sua saída. Não poderia ser diferente.
A questão da pedofilia na Igreja Católica, por exemplo, chegou a envolver, inclusive, um irmão dele, padre Georg Ratzinger, que dirigiu de 1964 a 1994 o famoso coral da catedral de Regensburgo, também conhecida por catedral de Ratisbona.
Esse escândalo com meninos desse Coral veio a público em março de 2010 e se refere aos consumados crimes de pedofilia e atentado ao pudor que vitimaram os meninos-cantores. Esses crimes sexuais de autoria de padres ocorreram entre 1958 a 1973. Portanto, ainda na gestão de Georg Ratzinger.
Todavia, no apurado geral, pesou sobre ele (Georg), apenas, acusação de omissão pertinente aos crimes.
Outra questão forte, cujo intenso conservadorismo acabou afastando as correntes mais modernas do Vaticano, se refere ao dogma evolutivo. Prendeu-se à discussão das Células-Tronco, atualmente uma realidade no mundo científico.
A Igreja, através de Bento XVI, condenou fortemente tanto a clonagem e pesquisa com célula-tronco embrionária, como anticoncepcionais e fertilização artificial, considerados “imorais”, posição dura e conservadora divulgada em documento sobre bioética, assinado também pelo corpo doutrinal do Vaticano.
Por outro lado, Bento XVI nunca foi tão conservador quanto a sua oposição irremediável na questão do Casamento Gay. Uma das mais fortes manifestações contrárias a isso se deu em novembro do ano passado (2012).  
Mesmo defendendo a homossexualidade, a Igreja Católica de Bento XVI condenou drasticamente o que chamou de “atos homossexuais”, isto é, as uniões gays, as quais  “não devem ter o mesmo valor das heterossexuais e não devem permitir que crianças sejam adotadas”.
E por último pesou nessa decisão da renúncia de Bento XVI a questão do casamento dos padres. Na maioria das outras religiões que aumentam seus fiéis a cada dia, seus líderes, pastores, ou equivalentes, têm o direito a constituir família.
Isso mostra que o Celibato da Igreja Católica é realmente uma pesada pedra no sapado de quem comanda o Vaticano, principalmente porque aqueles mais inteligentes e mais conscientes de sua Fé costumam abandonar a Igreja para constituírem famílias.
Existem muitos exemplos no Mundo de padres, freiras (ou religiosos católicos), que abdicaram de seus compromissos com a Igreja ( e de "antecipar-se ao Céu" ), para formar uma família.
Tão radical é o pensamento de Bento XVI com relação ao Celibato que, ao responder a um questionamento público, certa vez, disse: “O sentido profundo do celibato em um sacerdote é que antecipa a vida plena da ressurreição”, ou seja, quem não constitui família vai mais rápido para o Céu.  Nas palavras do Papa: “(...) o celibato é uma antecipação do céu.” (...)”.
Sem dúvida, não só a idade, mas a política interna do Vaticano com Cardeais e Padres influentes dispostos a se reorganizarem diante da evolução do Mundo, devem ter pressionado a atual administração na mudança de rumos da Igreja que perde, a cada ano, mais fieis para outras religiões, especialmente para a Evangélica.
Observe: só no Brasil, em 30 anos, o percentual de evangélicos passou de 6,6% para 22,2% da população, sendo o segmento religioso que mais cresceu. Os evangélicos chegaram assim a 42,3 milhões no ano de 2010, um aumento de 16 milhões de pessoas desde 2000, quando foi realizado o último Censo.
Essa mesma pesquisa, entretanto, aponta que a população católica diminuiu muito, passando de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010. A igreja católica vem mostrando queda desde o primeiro Censo, realizado em 1872.
Pelo visto, os católicos influentes do Vaticano não querem mais esse rigorismo tradicionalista à la Bento XVI e podem ter influenciado, sim, na decisão do Papa em renunciar “para deixar que outros católicos mais modernos decidam os destinos dos Católicos”.
Mesmo que com elegância, inteligência e dedicação, Bento XVI desde que assumiu o Vaticano há 8 anos, nunca conseguiu, efetivamente, marcar seu pontificado, fato que seu antecessor João Paulo II, nos mais de 20 anos de papado, fez. E esse, além dos itens citados no começo deste texto, foi também um de seus grandes desafios, infelizmente, não superado.
 
Abaixo a Carta de Renúncia:
 
Caríssimos Irmãos,
 
Convoquei vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino.
 
Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado.
 
Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
 
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.”

Um comentário:

  1. O Papa Bento XVI renunciou a Diocese de Roma e consequentemente ao Ministério Petrino porque antes de qualquer coisa ele é um Filosofo. Ele não quer reconhecimento e nem ser lembrado como um pontífice e sim com um grande pensador da idade contemporânea. Queridos vamos ler e pensar todos os escritos do Papa como verdadeiro Homem lançado na tempestade do mundo.

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