quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Mourão critica 13º salário e adicional de férias, e Bolsonaro desautoriza vice


Uol - O candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), fez críticas ao pagamento de 13º salário e ao adicional de férias ao trabalhador brasileiro durante palestra a empresários no interior do Rio Grande do Sul nessa quarta-feira (26). Logo após o conteúdo ser divulgado pela imprensa, Bolsonaro criticou a declaração de seu colega de chapa.
Convidado da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Uruguaiana, Mourão prometeu, a uma plateia composta por empresários e representantes de associações e sindicatos patronais, a realização de reformas tributária e trabalhista em um eventual governo Bolsonaro. O capitão da reserva lidera as últimas pesquisas de intenção de votos à Presidência.
Ao se referir especificamente à reforma trabalhista pretendida, Mourão classificou como "jabuticabas" direitos trabalhistas que acabam onerando, segundo ele, os patrões, e elencou entre elas o 13º salario --garantido pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), em legislação de 1943.
Temos algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada 12, como é que nós pagamos 13 [salários]?
Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice-presidente
"É complicado, e é o único lugar em que a pessoa entra em férias e ganha mais, é aqui no Brasil. São coisas nossas, a legislação que está aí, é sempre aquela visão dita social, mas com o chapéu dos outros, não é com o chapéu do governo", continuou.
No Twitter, Bolsonaro se manifestou sobre a fala do vice. "O 13° salário do trabalhador está previsto no art. 7° da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha [sic], confessa desconhecer a Constituição", escreveu.
A reportagem tentou entrar em contato com Mourão, mas ele não atendeu as ligações. Adversários de campanha como Geraldo Alckmin (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) criticaram a declaração (leia abaixo).
Em seu discurso, o vice de Bolsonaro defendeu a realização das duas reformas como forma de "priorizar gastos" e citou o responsável pelo programa econômico da campanha, Paulo Guedes.
"Ele vem falando há oito meses no mercado... surgiu aquela história da CPMF. Vamos lembrar que é um imposto que anda em cascata, ela vai tributando em cascata. Agora, para que ocorra algum tipo de imposto dessa natureza, os outros [impostos] têm que ser baixados. Temos hoje em torno de R$ 192 bilhões de desonerações, ou seja, o pessoal que não paga imposto", reclamou Mourão.
Na avaliação do general, "teremos que paulatinamente ir organizando isso [o fim da desoneração], não pode ser cortado da noite para o dia". Ele mencionou fechamento de "25 mil indústrias" e tributaristas "como o professor Marcos Cintra, gente que entende do assunto", que estão, segundo ele, "trabalhando no assunto".
"A filosofia é uma só: temos que colocar todo mundo na base, todo mundo pagando, tem muita gente que não paga", disse.
Sobre a reforma trabalhista, Mourão também fez questão de criticar o peso do imposto sindical "em cima da atividade produtiva". "É o maior custo que existe", classificou. A obrigatoriedade de recolhimento do imposto, entretanto, foi derrubada pelo governo de Michel Temer (MDB) no final do ano passado.

Declarações polêmicas do general 

Bolsonaro está fora das agendas de rua da campanha desde o ataque a faca sofrido durante um ato eleitoral em Juiz de Fora (MG) no último dia 6.
Em agosto, em seu primeiro evento público como candidato, Mourão declarara que o "caldinho cultural" do Brasil inclui a "indolência" dos povos indígenas e a "malandragem" dos negros africanos. A posição foi expressada em evento na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (RS).
Na mesma ocasião, se referiu a famílias pobres "onde não há pai e avô, mas, sim, mãe e avó", por exemplo, como "fábricas de desajustados" que fornecem mão de obra ao narcotráfico.
Assim como a posição a respeito de benefícios trabalhistas, ele também falara sobre o assunto em palestra a empresários, ao traçar um paralelo entre formação da família e ação de bandidos em áreas carentes.
Sobre isso, explicou depois aos companheiros de campanha que a fala sobre mães e avós se referia a uma situação em que um homem larga sua mulher e filhos e a mulher acaba forçada a trabalhar mais horas longe de casa para sustentar a família -- de modo que os filhos ficariam expostos a más influências.
No começo deste mês, após o ataque contra Bolsonaro em MG, o militar da reserva voltou a ganhar notoriedade ao cogitar uma intervenção militar em caso de "anarquia". Nesse contexto, defendeu uma nova Constituinte sem participação popular --feita por um "conselho de notáveis" e só então submetida a plebiscito.

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