terça-feira, 27 de novembro de 2012

História de Vida: Daguia e a paz no Oriente Médio...

Antonio José Mendes Daguia

Em Recife antes da partida
                Os recentes conflitos envolvendo judeus e palestinos pela soberania da região noticiado de forma generalizada em todo mundo me fez lembrar de uma bonita história narrada por um ‘tuntuense’ há cerca de 10 anos quando ele fez parte de uma missão internacional de paz  na atual região em conflito, a Faixa de Gaza, território ocupado pelos  palestinos, mas de parcial autonomia israelense desde o fim da Guerra dos Seis Dias, em 1967, que envolveu várias nações opostas a criação do Estado Judeu. O protagonista da narrativa já está radicado em Tuntum há mais de 40 anos, Antonio José Mendes Daguia,  filho da cidade de Anajatuba, baixada maranhense. Hoje pela manhã fui até sua casa ouvir por mais uma vez a história que marcou a vida desse tuntuense por adoção.

  Antes de começar a gravar percebi apreensão na sua face já enrugada, voz um pouco trêmula e os olhos com sinais de lacrimejamento, era a saudade do passado distante do então jovem militar aliado ao peso dos seus 68 anos de idade. Servir o exército não era para todos, poucos conseguiam passar pela peneira das exigências e ser honrosamente incorporado, desejo de todo pai de família, assim aconteceu com Daguia  que foi recrutado para o serviço em São Luis, no dia 7 de julho de 1963. No ano de 1964 a crise se intensificava no Oriente Médio, região localizada na Ásia Ocidental composta por 15 países. A desavença milenar entre os povos daquela região há pouco tempo havia ganhado um novo capítulo tendo como estopim dessa vez o Canal de Suez, eixo de navegação marítima entre o Oriente e o Ocidente atualmente sobre o domínio egípcio.  Em razão da crise a quase recém criada Nações Unidas pediu ajuda internacional e o Brasil foi um dos países convocado a enviar uma força de paz composta por 530 homens. Por merecimento e disciplina Daguia foi um dos selecionados para participar da Missão de Paz no Oriente Médio, especificamente na Faixa de Gasa, área ocupada pelo Egito na época. Em 12 de setembro de 64 ele pisava em solo egípcio.
Daguia a direita ao centro

                - Nós saímos de São Luís e fomos para Recife, lá passamos um mês inteiro recebendo instruções, nós éramos 13 maranhenses, era tudo misturado, piauiense tinha só o coronel Irapuá. Tinha oito cearenses, o restante era paraibano, pernambucano e alagoano. Era só gente do nordeste porque o Castelo Branco quando era presidente da república exigiu um contingente só do nordeste, porque antes só saia do sul e sudeste, esse foi o primeiro a sair do nordeste, o 15º contingente, narrava Daguia.

                Sob a revista do general Costa e Silva, em Recife, comandante do 4º Exercito, a tropa embarcava para o Egito cheia de ânsia e sonhos, imaginavam que a viagem traria bom retorno financeiro durante a estada, fato que não aconteceu. Cada soldado recebia mensalmente somente 108 dólares livre de todas as despesas. O governo do presidente Gamal Abdel Nasser  dava 11 libras egípcia de gratificação, o salário  mínimo de lá era equivalente a 7 libras. A missão específica era a de impedir que o povo árabe saísse da Faixa de Gaza e entrasse no território judeu. O grupamento ficava entre o fogo cruzado dos dois países, numa fiscalização permanente de 24 horas. Cada militar brasileiro portava um fuzil de alavanca e um binóculo de alcance, a área de vigilância compreendia 16 quilômetros, nos postos de observação ficava um telefone a disposição para chamar reforço caso ocorresse alguma ameaça de invasão do espaço israelense.
Jardim das Oliveiras

                - Durante a noite muitos tiros eram ouvidos, mas em áreas de vigilância de outras nações. Nós não tínhamos  tempo pra quase nada, chegamos a sair algumas vezes para visitar os pontos turísticos e fotografar. Estive no túmulo de Jesus, lavei o rosto no Rio Jordão, tomei uma caneca de água do Poço de Jacó. Nessa época toda área ainda pertencia ao Egito. Quando não estávamos trabalhando nós aproveitávamos o tempo livre para escrever aos familiares, eu mandei muita carta e também recebi muita, quase não demorava pra chegar a resposta, contou.
Jerusalém: Igreja das 12 Nações



               Em reconhecimento pelos bons serviços prestados durante a missão de paz Daguia foi condecorado por um antigo órgão (Unesp) da ONU recebendo uma medalha, prova de sua eficiência  durante os 11 meses de lealdade  ao povo árabe. Retornou a Pátria Amada em 12 de agosto de 1965 para pouco tempo depois ingressar na Polícia Militar vindo parar em terras tuntuenses  por designação do coronel Godin.
- Eu estava a duas semanas trabalhando com o coronel Godin depois de ter chegado de Barreirinhas quando apareceu José Uruçu, ele estava acompanhado de Júlio Dantas e o seu filho Mazim Uruçu, queriam reforço policial, conversaram comigo e me convenceram a viajar, relatou.
Retornando ao Caíro
  Atualmente o ex expedicionário de paz está aposentado por idade, mas ainda trabalha como motorista, função adquirida por meio de concurso público municipal.  Do casamento com Raimunda Gonçalves Daguia tem seis filhos. Daguia  não ganhou fama, muito menos dinheiro, mas descobriu que não há limites quando a luta encabeça os sonhos para voar mais  alto e descobrir novos horizontes.
Á porta do Batalhão Iuguslavo
     
Honra:medalha (1ª) recebida pela ONU
Terço que trouxe de Jerusalém
               

2 comentários:

  1. parabens ao irmao daguia, muita bonita a historia dele,foi e ainda com certesa homem de muita coragem,peça que deveria ter um reconhecimento maior,e ajudou na prevençao da vidas de muitas familias.mais uma vez parabens pelo o bom trabalho desenvolvido.

    ResponderExcluir
  2. essa historia precisa ser registrada nos anais da camara municipal de tuntum, seu exemplo é invejaveis, sempre tive as melhores informações dessa pessoa humilde, que foi praça em tuntum e deixou a farda para conviver em nossa cidade, aqui casou e teve diversos filhos todos pessoas simples, sua esposa é uma vencedora, pois criou todas essa prole com esforço e sacrificios, para bens daguia.

    ResponderExcluir