sábado, 4 de fevereiro de 2017

As eleições de 1958 e os ecos da República Velha em Tuntum



Manoel Valente Figueiredo & Ariston Arruda Leda, oponentes na disputa à Prefeitura de Tuntum, nas primeiras eleições do municipais, em 03 de outubro de 1958.

Por Jean Carlos - A primeira eleição para prefeito no município de Tuntum, foi marcada por um acontecimento que se tornaria um dos mais inusitados e obscuros de sua história política. 
Criado, por força da lei nº 1362 de setembro de 1955, o jovem município desmembrado de Presidente Dutra, só realizaria suas primeiras eleições majoritárias em 03 de outubro de 1958, posto que o governador do estado Eugênio Barros, embasado nos termos do artigo 6º, da lei nº. 269 de 31 de dezembro de 1946, nomeou o Sr. Isaac da Silva Ribeiro para o cargo de prefeito. Este ocuparia o cargo até a posse do futuro eleito no pleito de 1958, cuja posse estava prevista para 31 de janeiro do ano subsequente. Porém, apenas os representantes do poder Legislativo municipal assumiria em sessão solene, a condição de primeiros vereadores eleitos pelo sufrágio dos cidadãos tuntuenses. 
Foram alçados à Câmara Municipal os edis: José Pereira da Silva, João Patrício Gomes, Adão Gomes da Costa, Belchor Carvalho Souza, Antônio Fernandes de Sousa, José Costa Carvalho (Deco), Astolfo Seabra de Carvalho, Edésio Gomes Fialho e Marinho Gonçalves de Morais. Nessa primeira legislatura, a Mesa Diretora da Casa, fora escolhido para a presidência da Câmara, o Sr. Astolfo Seabra; Belchor Carvalho de Sousa para o cargo de vice-presidente e; José Pereira da Silva para primeiro-secretário. 
Em relação ao cargo do Executivo a situação permaneceria indefinida até o dia 07 de setembro de 1959, por conta de uma ação judicial movida, a partir da impugnação de urnas eleitorais dos povoados Belém (Barriguda), São Lourenço (Mucura) e São Miguel, após denúncia de fraude. Nesse intervalo de tempo assumiu a chefia do Executivo, em caráter interino, o então presidente da Câmara Municipal, Astolfo Seabra. 
Manoel Valente
Em 1958, pleitearam o cargo de prefeito, Manuel Valente pela sigla da UDN e Ariston Léda pelo partido do PSB, ambos promoveram uma disputa bastante acirrada, em que se valeram-se de velhos artifícios que marcaram as fraudulentas eleições da República Velha. A Profª. Antonia Morais Gomes em – “Tuntum: uma década de emancipação política (1955-1965)”, discorre:
“Ocorrida a eleição de 03 de outubro de 1958 e passado a apuração o resultado para os cargos de prefeito e vice-prefeito ficou indefinido, atendendo a solicitação de impugnação dos votos das urnas dos povoados São Lourenço, Belém e São Miguel, proposta pelo candidato Manoel Valente de Figueiredo, permanecendo as mesmas dependendo da decisão do Tribunal Regional Eleitoral...”
A partir daí, começaria uma ferrenha disputa junto ao Tribunal Regional Eleitoral. Evidentemente, as partes interessadas procuram todos os meios para fazer prevalecer seus respectivos interesses, recorrendo-se principalmente, ao apoio de seus representantes na Assembleia Legislativa. Eram partidários da causa de Manoel Valente, o deputado estadual Manoel Gomes e o atuante deputado federal barra-cordenseDr. Pedro Braga Filho e, advogando por Ariston Leda, o seu sobrinho – o jovem deputado estadual Eurico Ribeiro, que na época despontava como um dos mais promissores políticos do estado.
Ariston Leda, oficialmente, o primeiro prefeito eleito de Tuntum
Enquanto a situação não se definia a população aguardava ansiosa o resultado do processo, e naturalmente ao longo desse transcurso, surgiam e se consolidavam várias alegorias, sempre pautadas em informações distorcidas ou que só existiam no imaginário coletivo, dado a falta de acesso a notícias de fontes confiáveis. 
No tocante aos subterfúgios adotados pelas partes envolvidas na disputa, pode-se assegurar que o verdadeiro enredo desse evento de nossa história ficou aprisionado no calabouço do passado, mas que serviriam para alimentar o imaginário popular de toda sorte de interpretações.
Ao final do processo, a Justiça Eleitoral publicaria decisão em favor de Ariston Leda, o que resultou em muitas versões e especulações a respeito de caso, uma vez que, a grande maioria dava como certa a vitória de Manoel Valente. Entretanto, uma coisa é certa, os bastidores da política e suas decisões mirabolantes nunca vão ser objeto de clareza aos governados. 
O fato é que Ariston Leda se tornara o primeiro prefeito eleito da história política de Tuntum e governaria de 07/09/1959 a 31/01/1963. Já Manoel Valente, a partir de então se tornara um grande empreendedor no município. Ao povo coube o papel de aceitar o destino resignadamente.
Foram ecos da República Velha que se fizeram sentir nas eleições de 1958 e até os nossos dias continuam a ecoar.
Ecos de Tuntum

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