terça-feira, 5 de novembro de 2019

Sobrevivente de emboscada no MA que matou líder guajajara conta que foi atacado por cinco madeireiros


Sobrevivente da emboscada que matou o líder indígena Paulo Paulino Guajajara, Laércio Guajajara conta que eles foram atacados por cinco madeireiros dentro do território indígena Araribóia, no Maranhão, quando saíram para caçar na sexta-feira. Naquele dia, eles  não estavam fazendo o trabalho de guardiões da floresta para combater a extração ilegal de madeira e focos de incêndio.
Ao parar em um lago para buscar água, Paulo Paulino e Laércio ouviram barulho no mato e acharam que fosse algum animal. Foi quando cinco homens armados saíram da mata.
— Começaram a atirar, numa distância não muito longe, e aí ele [Laércio] foi tentando se esconder, mas foi atingido no braço e, quando se deu conta, que olhou pro lado, o Paulino já tinha sido alvejado no rosto e já estava no chão — contou à Agência Pública o cineasta Taciano Brito,  que finaliza o documentário Iwazayzar – Guardiões da Natureza, sobre a batalha dos Guajajara para proteger seu povo e a floresta.
— Ele ainda tentou puxar o Paulino pra perto dele mas viu que ele já estava morto. Ele ainda ficou mais um tempo ali tentando se esconder, e o pessoal atirando até que ele correu para tentar fugir e foi atingido nas costas.
Laécio contou que, apesar das denúncias sobre ameaças e extração ilegal de madeira, as autoridades não tomaram providências.
— A gente já fez muitas denúncias. Alertou muitas vezes às autoridades, mas, nada feito, né? Com ele já ‘é 5 guerreiro’ que tá morrendo e tá ficando impune, todas essas mortes aí — afirmou Laércio ao documentarista.
Nesta segunda-feira, o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Imperatriz, no Maranhão, Guaraci Mendes, anunciou que a fundação deve pedir a ajuda da Força Nacional para ocupação da região. Após a morte do líder indígena, o clima é de muita tensão e medo na região.
— Infelizmente, depois do acontecido, a gente mobilizou aqui a sede, as forças policiais a andarem com essa Ação Civil Pública (ACP) que ocorre desde 2016 que prevê o emprego de forças federais na região. A nossa intenção é aproveitar o efetivo da Força Nacional que está em operação no estado do Pará para que eles estendam a permanência e venham ocupar o território pelos próximos seis meses — disse Guaraci.
Em protesto hoje, lideranças indígenas ocuparam o plenário da Câmara Municipal do município de Imperatriz para denunciar a falta de ação das autoridades para impedir que madeireiros invadam as Terras Indígenas. Eles alegam que a falta de segurança aumenta o risco de conflitos armados nessas áreas.
Segundo os manifestantes, Paulino Guajajara era ameaçãdo há tempos  por conta da sua atuação nos Guardiões da Floresta.
— O que ocorreu a gente já temia. A gente já mandou vários documentos tanto para Funai, Ministério Público Federal, Polícia Federal e a própria Secretaria de Segurança Pública do Estado. Foi um crime, mas nós sabíamos das ameaças que eles vinham sofrendo. Já que ocorreu mais um crime e não foi o primeiro crime. Paulo Paulino foi mais um indígena assassinado. Hoje o clima é de tensão, de medo nas aldeias e o que a gente a gente clama é por justiça — conta a líder indígena Fabiana Guajajara.
Decreto do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), publicado hoje, criou a  ‘Força-Tarefa de Proteção à Vida Indígena (FT-Vida)’, com objetivo de colaborar com órgãos federais no combate à proteção de terras e dos índios guardiões da floresta.
O decreto prevê a atuação emergencial em casos de ameaça ou violação de direitos em terras indígenas, quando solicitado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), do Ibama, Defensoria Pública da União (DPU), Polícia Federal, Ministério Público Federal (MPF) ou da Comissão Estadual de Políticas Públicas para os Povos Indígenas do Maranhão (Coepi/MA). O Globo

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